Ambiente Inteiro: de nada adianta preservar o mico-leão-dourado e deixar crianças morrerem por falta de …

Pedro Israel Novaes de AlmeidaPor Pedro Israel Novaes de Almeida* – A preocupação com o meio ambiente não é nova, e talvez já estivesse presente em algum habitante das cavernas. Ambientalistas, ao longo dos tempos, progrediram de excêntricos e românticos para estudiosos e cientistas. Hoje, os cuidados com o equilíbrio ambiental está disseminado por toda a sociedade.

A humanidade já experimentou tragédias, resultantes de atividades humanas irresponsáveis e imediatistas. Aí estão os solos contaminados, as multidões de mutilados por resíduos industriais , os assoreamentos de rios, as áreas desertificadas e as espécies em extinção, como resultado de um período em que a produção era um objetivo que dispensava a análise de meios.

O equilíbrio ambiental é um desafio à sociedade, cujo consumo já não anda tão distante de nossa capacidade de produzir alimentos. Os insetos, como fonte alternativa de proteínas, são cada vez mais cogitados, ainda que afrontem paladares e sensações adversas.

É impossível a preservação integral da natureza, sob pena de reduzirmos de maneira drástica a população, retornando às cavernas e topo das árvores. Seríamos, de novo, coletores de plantas silvestres, caçadores ou caçados.

O grande desafio à legislação ambiental reside em preservar os recursos naturais, sem impossibilitar a atividade humana. As políticas básicas já foram delineadas, controlando os desmatamentos e preservando as fontes de água e beiras de rios.

Agricultores e pecuaristas, que convivem em plena natureza, sentem o dia-a-dia das limitações legais, e a maioria deles já incorporou as novas preocupações humanas. Não é fácil manter um rebanho produtivo sem autorização para espantar a família de onças que resolve morar no mato próximo. É difícil preservar a vida da cascavel que ronda o terraço da casa, onde brincam netos e tricota a avó.

Defensivos agrícolas, seguros quando corretamente aplicados e manejados, figuram como indiscriminadamente assassinos, no ideário popular. O ambientalismo, quando apregoado por leigos, repete refrões e gera preconceitos.

É na zona urbana, contudo, que o ambiente é mais aviltado. A maioria dos municípios brasileiros ainda não faz a destinação correta de resíduos, e lixões infectos fazem parte da paisagem. Autoridades, que vivem jurando amor ao meio ambiente, deixam populações inteiras sem saneamento básico, e não são raras as cidades onde o esgoto corre a céu aberto ou em redes clandestinas.

A política ambiental deve buscar o dano mínimo, sempre considerando que devemos produzir alimentos e gerar o conforto humano. Deve considerar, com igual rigor, os meios rural e urbano, pois de nada adianta preservar o mico-leão-dourado, permitindo que crianças morram por falta de sanidade ambiental urbana.

Fazemos, todos, parte da natureza, com a agravante de que podemos destruí-la, caso não sejam implantados limites racionais à ação humana. O ambientalismo é uma ciência, embora muitas vezes praticado como religião.
pedroinovaes@uol.com.br

*O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado

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