*Por Pedro Israel Novaes de Almeida – Dizem, pobres e ricos, que dinheiro não traz felicidade. Ocorre que a felicidade não é uma etapa, com divisórias nítidas. São momentos, que cessam tão logo o objetivo alcançado ou novidade imprevista adentre o rol das rotinas. O dinheiro traz conforto e independência. Sua valorização reside mais nos sofrimentos que evita que nos benefícios que traz.
A sociedade reverencia a posse de riquezas. Piadas de ricos são engraçadíssimas, e defeitos cruéis são meras extravagâncias.
O Estado não consegue cumprir o postulado da igualdade de direitos e oportunidades. Para um mesmo crime, as penas são mais pesadas para o menos assistido e pior representado.
O lado pérfido da desigualdade social diz respeito às áreas da segurança, saúde e educação. Pobres vivem em ambientes perigosos, esmolam atendimento nas unidades de saúde e recebem a mais básica educação.
São, contudo, bem humorados. Sacolejam, espremidos, por horas e horas, no transporte público, e ainda chegam ao ponto final sorrindo da própria miséria.
Fazem de uma asinha de frango um banquete, e divertem-se jogando malha, truco ou dominó. Banquinhos e degraus parecem poltronas, no boteco mais próximo, grande centro comercial, ao entardecer e fins de semana.
Lê as manchetes dos jornais estampados nas bancas, e fica imaginando o conteúdo integral da notícia. No comércio, paga mais pelo menos.
Pobre que nasce feio morre horrível. Rico consegue consertar defeitos estéticos, engrandecer seios e bundas, e até gargalhar à vontade, com dentes sempre novos.
Até o ingresso no céu parece mais difícil, ao pobre. Horas e horas de gritaria e muita doação são algumas das etapas necessárias.
Pobres sofrem menos quando residem em países com poucos recursos naturais, onde as riquezas são poucas e onde a regra é a penúria. Ali, o ambiente é naturalmente pobre.
O difícil é ser pobre em país rico, onde obras públicas monumentais e faraônicas destoam da paisagem das favelas, com seus emaranhados de fios e nenhum saneamento básico. Difícil é sentir-se roubado a cada dia, por criminosos que sangram os cofres públicos, entoando hinos de preocupação com as mazelas sociais.
Difícil é votar sem esperanças, e descrer das instituições. Difícil é notar que representantes não representam e mandatários pouco executam.
Difícil é chegar ao fim de mais um dia, sofrido, com ânimo para sorrir e desdenhar a própria sorte. Difícil é frequentar discursos e não receber atenções.
Difícil é ouvir, em cada esquina, que dinheiro não traz felicidade. Difícil mesmo é ser brasileiro.
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* Pedro Israel Novaes de Almeida é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado