Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, na cerimônia de encerramento do Seminário Empresarial Brasil-China: Para Além da Complementaridade

Confira aqui a íntegra do discurso da presidenta Dilma Rousseff, feito hoje na China, que fecha com: "precisamos ir além da complementaridade de nossas economias para favorecer entre nós uma relação dinâmica, diversificada e equilibrada". 300 empresários brasileiros acompanham a Presidenta. 


Pequim-China, 12 de abril de 2011


Boa tarde a todos,
Queria cumprimentar o senhor Wang Qishan, vice-primeiro-ministro da República Popular da China,

Queria cumprimentar os ministros que me acompanham nesta visita à República Popular da China: ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores; Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio [Exterior]; Wagner Rossi, da Agricultura [Pecuária e Abastecimento]; Edison Lobão, de Minas e Energia; Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia,

Queria cumprimentar o governador Jaques Wagner,
O embaixador do Brasil em Pequim, Clodoaldo Hugueney,
O senhor Li Jinzhang, vice-ministro das Relações Exteriores da China,
Queria cumprimentar também o embaixador da China no Brasil, o senhor Qiu Xiaoqi,
O professor Marco Aurélio, assessor especial da Presidência da República,
Queria cumprimentar o senhor Chen Yuan, presidente do Conselho do Banco de Desenvolvimento da China,
O professor Luciano Coutinho, presidente do BNDES,
O senhor José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras,

Dirigir uma saudação especial ao presidente da Confederação Nacional da Indústria no Brasil, senhor Robson de Andrade, em nome de quem cumprimento a missão empresarial brasileira,
Queria cumprimentar cada um dos empresários chineses,
Senhoras e senhores,
Senhores jornalistas, cinegrafistas,
Senhoras e senhores,

Eu quero, inicialmente, saudar as autoridades governamentais chinesas, as autoridades governamentais brasileiras, os empresários, acadêmicos, jornalistas, e todos aqueles que trabalham pelo estreitamento das nossas relações.

Eu vim a Beijing acompanhada de trezentos empresários brasileiros. Sei que a construção da confiança mútua entre o Brasil e a China depende da intensificação do diálogo, e dialogar é o que se fez neste Seminário. 

Esta comitiva reflete a vontade do governo e da sociedade do meu país na ampliação das relações econômicas e comerciais com a China. Desde que a China e o Brasil lançaram a sua parceira estratégica, em [19]93, viemos construindo uma sólida relação baseada na amizade, na aproximação contínua entre nossos povos e líderes e na construção de parcerias em áreas de interesse comum, como cooperação espacial, energia e aviação civil. 

Nossa corrente de comércio tem apresentado excepcional crescimento, passando de US$ 3,2 bilhões em 2001, para US$ 56,3 bilhões em 2010. Nossas trocas continuaram crescendo, mesmo durante a crise, a despeito da recessão que se abateu sobre o mundo. Isso fez da China, em 2009 e 2010, o primeiro parceiro comercial do Brasil no mundo e o principal destino das nossas exportações. 

Em 2010, a China tornou-se nossa maior fonte de investimento direto estrangeiro. Durante a Exposição Xangai, em 2010, o pavilhão brasileiro recebeu mais de 2 milhões de visitantes. No passado, os fluxos internacionais de comércio e investimentos estruturavam-se em torno do eixo Norte-Sul. No presente, fica evidente que as relações Sul-Sul são igualmente produtivas e vantajosas. 

Precisamos ir além da complementaridade de nossas economias, apesar da complementaridade ser importante. E precisamos ir além dessa complementaridade para favorecer uma relação mais dinâmica, mais diversificada e mais equilibrada.

A transformação da pauta em direção a produtos mais intensivos em tecnologia é o grande desafio da economia brasileira nos próximos anos e um dos pilares para o crescimento sustentado do nosso comércio exterior. 

As exportações brasileiras para a China ainda estão excessivamente concentradas em produtos como soja, minério de ferro, petróleo e celulose. Isso é bom, mas não é o bastante. São todos produtos importantes, cuja exportação queremos incrementar, agregando a eles valor. É necessário, no entanto, diversificá-los para que a expansão do comércio bilateral seja sustentável.

A diversificação também envolve presença de produtos de maior valor agregado. É o caso dos aviões da Embraer, um dos principais produtos de exportação para a China e para o mundo. É o caso também da nossa indústria automotiva, atualmente a 6ª maior do mundo. 

Senhoras e senhores,
Queremos dar um salto de qualidade nas nossas relações. Além de parceiros comerciais, queremos também ser parceiros na criação de oportunidades de investimento em negócios, nos serviços e na inovação. A chave dessa parceria é a reciprocidade no tratamento dos investimentos de lado a lado, em todas as áreas. Investimentos em infraestrutura e logística são essenciais para aumentar a competitividade e produtividade da indústria brasileira. Nós fizemos, nós estamos fazendo e nós continuaremos fazendo esses investimentos tão necessários.

A participação chinesa na construção do Gasoduto de Integração Sudeste-Nordeste, o Gasene, com mais de mil quilômetros, é um exemplo do que podemos fazer juntos. 

A integração logística sul-americana, por exemplo, oferece inúmeras oportunidades para novas parcerias, especialmente no momento em que o Brasil coordena o Conselho Ministerial de Infraestrutura e Planejamento da Unasul. A ligação entre o Atlântico e o Pacífico é estratégica para aproximar ainda mais as economias de duas das mais dinâmicas regiões do planeta: a Ásia e a América do Sul.

A experiência chinesa com a realização dos Jogos Olímpicos de 2008 será de grande utilidade para o Brasil, sede da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Temos de aumentar o turismo, multiplicar as conexões aéreas e explorar as possibilidades abertas pelo acordo que assinaremos, de cooperação em megaeventos esportivos.

Queremos ver firmas chinesas na competição pela ligação com trens de alta velocidade entre o Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. 

Inúmeras possibilidades também se abrem para parcerias sino-brasileiras em alta tecnologia, siderurgia, eletroeletrônicos, complexo agrícola, complexo mineral, biocombustível e geração e transmissão de energia elétrica, por exemplo.

Esperamos inaugurar um novo ciclo de investimentos na área industrial, com a ampliação e a ampliação e a diversificação das atividades de empresas na área de tecnologia da informação, no setor de equipamentos para construção e no próprio setor automobilístico.

Mas esses investimentos no setor produtivo têm de constituir-se em efetiva parceria, com transferência de tecnologia que permita realizarmos um verdadeiro processo de integração sino-brasileiro.

O desenvolvimento socioeconômico e tecnológico está diretamente relacionado a uma política efetiva de formação e capacitação profissional em que a cooperação entre os nossos povos passa a ser cada vez mais estratégica. Nossos estudantes têm de transitar entre o Brasil e a China para que também nós possamos criar uma base muito forte de diálogo e de formação e trabalho científico.

Senhoras e senhores,
Para nós, crescimento econômico só faz sentido se for acompanhado de justiça social. Esse foi o grande esforço realizado pelo Brasil nos últimos anos.
A República Popular da China tem buscado também esse objetivo. O 12º Plano Quinquenal atribui prioridade à meta do desenvolvimento com harmonia e inclusão social.

O Brasil hoje tem um dos maiores programas de inclusão social do mundo. Alcançou resultados muito positivos na implementação de suas políticas sociais, com significativa redução da pobreza, fortalecimento de um mercado de bens de consumo de massa.

Nosso diálogo nessa área pode ser benéfico para os dois lados. No momento em que o Planeta enfrenta desafios sem precedentes, estamos unindo forças e projetando visões alternativas. Na ONU, na OMC, no G-20, no BRICs, no Basic, ajudamos, Brasil e China, a construir uma nova ordem internacional. Participamos também, de forma muito cooperativa, das Conferências do Clima. Destaco, especificamente, em Copenhague, quando Brasil e China tomaram medidas bastante avançadas no sentido da redução dos gases de efeito estufa.

Estou segura de que a China e o Brasil seguirão compartilhando do mesmo objetivo: o de integrar nossas economias, de forma competitiva e soberana, ao mercado globalizado do século XXI. 

No mundo interdependente de nossos dias, nenhum país pode aspirar ao isolamento, nem assegurar sua prosperidade às expensas de outros. Nenhuma nação ou grupo de nações pode agir como se seus interesses individuais estivessem acima do interesse coletivo. A estabilidade e o crescimento da economia mundial dependem de um relacionamento equilibrado entre as partes. 

Minha visita à China inaugura um novo capítulo em nossas relações bilaterais. O passado foi muito produtivo. O que nós fizemos em conjunto, até agora, resultou em muitas contribuições para nossos povos. Mas, a partir de agora, nós temos de inaugurar este novo capítulo. Nele, o Brasil fará todo o esforço para ampliar sua relação com a China, por meio do aperfeiçoamento dos laços que já nos unem.

Destaco a importância da Cosban [Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação] e quero reiterar ao senhor Wang Qishan, que representa a parte da China na Cosban, que esse mecanismo de alto nível se constitui na criação de uma institucionalidade cujo objetivo é, sem sombra de dúvida, levar a cabo nossos consensos e, ao mesmo, garantir que haja uma unidade de ação e uma celeridade de atitudes. 

Volto às minhas palavras iniciais: precisamos ir além da complementaridade de nossas economias para favorecer entre nós uma relação dinâmica, diversificada e equilibrada. Em função da amizade existente entre Brasil e China e por tudo o que nós já fizemos e vamos fazer nesta viagem, estou segura de que essas também são as intenções das autoridades, do povo e dos empresários chineses. Certamente, teremos sucesso nessa empreitada, que consolidará a cooperação estratégica e a integração entre os nossos povos de forma muito fraterna.

Muito obrigada.
 

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