Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante cerimônia de abertura do Fórum de Boao
Boao-China, 15 de abril de 2011
Obs: Por problemas técnicos, o início deste discurso não foi gravado.
…, presidente da República Popular da China,
Senhor Fukuda Yasuo, e, ao cumprimentá-lo, cumprimento todos os integrantes do Fórum de Boao,
Excelentíssimo senhor Dmitri Medvedev, presidente da Federação Russa,
Excelentíssimo senhor Jacob Zuma, presidente da República da África do Sul,
Senhor Lee Hsien Loong, primeiro-ministro de Cingapura,
Senhor Kim Hwang-sik, primeiro-ministro da República da Coreia,
Senhor José Luis Zapatero, presidente do governo da Espanha,
Senhor Nikolai Azarov, primeiro-ministro da Ucrânia,
Senhor Zhou Wenzhong, secretário-geral do Fórum de Boao para a Ásia,
Empresários aqui presentes,
Senhoras e senhores jornalistas,
Senhoras e senhores,
É com grande satisfação que eu compareço a este Fórum de Boao, atendendo ao honroso convite do presidente Hu Jintao.
O Brasil reconhece a importância das economias da Ásia, e temos certeza de que o Fórum de Boao se constitui em um dos mais importantes espaços multilaterais de discussão sobre o destino desta parte importante da Humanidade. Somos favoráveis a todas as iniciativas que busquem aproximar, integrar e desenvolver as relações da Ásia e da América do Sul, as duas regiões que mais crescem no mundo.
Apesar da distância entre nossas regiões, o Brasil se reconhece no continente asiático. Nosso país tem composição multiétnica e se formou por fortes movimentos de migrações europeias, africanas e também asiáticas.
Essa proximidade dá a medida do pesar que sentimos pelos recentes eventos naturais que atingiram o Japão e a Nova Zelândia, provocando enormes perdas humanas e de bens materiais. Tenho certeza de que a firmeza, a determinação do povo japonês será capaz de reconstruir o seu país.
Queria destacar que o Brasil hoje é o país que possui a maior colônia japonesa do mundo, e temos cerca de 300 mil brasileiros residindo no Japão. Determinei ao meu ministro de Relações Exteriores que, logo após o término deste encontro, visite o Japão e expresse ao governo japonês a nossa solidariedade e disposição de apoio.
Senhoras e senhores,
O mundo atravessa um período de profundas transformações. A multipolaridade econômica e comercial avança, deslocando velhas hegemonias e paradigmas. Esse processo abre espaço para um novo dinamismo, no qual a Ásia é um pólo emergente e a América Latina desponta como espaço econômico relevante.
O mundo vem saindo de uma grave crise internacional. Hoje a economia mundial está em recuperação, mas com velocidades diferentes de crescimento entre países avançados e em desenvolvimento. Esta assimetria tem gerado desafios para a administração de nossas economias.
De um lado, a expansão da liquidez por parte dos países avançados pressiona a inflação mundial e aprecia as moedas de vários países, sobretudo dos exportadores de commodities, ao mesmo tempo em que promove a insegurança alimentar e energética em outras nações.
De outro lado, a lenta e instável recuperação econômica nos países avançados dificulta a redução no déficit fiscal e na dívida pública naquelas economias.
Essa situação levou alguns analistas a uma resposta um tanto simples: adotar políticas restritivas, tanto nos países emergentes, para controlar a inflação, quanto nos países avançados, para promover uma rápida consolidação fiscal.
Eu gostaria de enfatizar que nós somos favoráveis ao controle da inflação e à estabilidade fiscal. Eu gostaria de destacar que, para nós, o controle da inflação e a estabilidade são fundamentais para a recuperação da economia mundial. Mas isso tem que ter como objetivo criar condições para o crescimento econômico, para a inclusão social, sobretudo naqueles países onde parcelas enormes da população ainda vivem em situação de pobreza ou de pobreza extrema.
Desenvolver com inclusão social – que é o tema deste Fórum – é a questão chave para todos nós, mulheres e homens do século XXI. Os movimentos em todo o Oriente Médio e no Norte da África evidenciam que as pessoas estão carentes de inclusão social. Eu acredito que não haverá crescimento sustentado e estável de longo prazo sem fortes programas de inclusão social, redução de desigualdades e participação.
Senhoras e senhores,
A experiência do Brasil nos últimos anos demonstrou, de forma inequívoca, a importância do crescimento com melhora na distribuição de renda. É claro que isso não ocorreu sem grande esforço do povo brasileiro.
Nos últimos anos, consolidamos estabilidade macroeconômica e construímos no nosso país uma ampla rede de proteção social, que resultou em mais desenvolvimento econômico. Implementamos esses fortes programas de distribuição de renda, aumentamos o salário real e iniciamos diversos programas de universalização dos serviços públicos.
Citando alguns exemplos: na área de combate à pobreza e educação, criamos o Bolsa Família, um dos maiores programas de renda do mundo, que elevou a renda de milhões de pessoas. Ampliamos o acesso ao ensino básico, criamos mecanismos de financiamento que garantiram o acesso a milhões… milhares de jovens de baixa renda ao ensino superior. Elevamos o nosso investimento e levamos à população rural eletricidade, beneficiando milhões e milhões de famílias. Na habitação, também iniciamos um grande programa de construção de casas.
Enfim, ampliamos o investimento e o consumo, o que permitiu ao país sair de forma rápida e consistente da grave crise econômica internacional. No setor financeiro, ampliamos o acesso ao crédito. Com isso, fortalecemos a nossa economia e geramos mais de 15 milhões de empregos formais. Nos primeiros três meses deste ano, mantivemos o mesmo ritmo de geração de emprego.
Foi o aumento do emprego e da renda que viabilizou a construção de um mercado interno de consumo de massas, capaz de sustentar o crescimento de nossa economia e gerar ótimas oportunidades de investimento para o capital privado.
Enfim, a democratização do crédito, a elevação da renda do trabalho, as transferências de renda, a universalização de serviços e investimentos em infraestrutura retiraram 36 milhões de pessoas da pobreza, em um país de 190 milhões, e expandiu a classe média brasileira.
Senhoras e senhores,
Nós, de fato, vivemos em um momento de notável expansão e excelentes oportunidades de investimento. O Programa de Aceleração do Crescimento estabelece intensa parceria público-privada para investimentos em energia, logística, infraestrutura urbana e social.
Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do Planeta, e, no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento, retomamos investimentos em hidrelétricas de grande porte, na modernização de nossas redes de distribuição e transmissão.
Estou iniciando uma ampla modernização nos aeroportos, fortemente pressionados pelo espetacular aumento da demanda que, somente no último ano, representou uma elevação de mais de 11 milhões de passageiros.
Consolidamos um dos programas mais ambiciosos de biocombustíveis, baseado no etanol de cana-de-açúcar. Tivemos descobertas de grandes campos de gás e petróleo na plataforma oceânica, chamada camada do pré-sal, que estão desencadeando um conjunto de investimentos em navios, sondas, plataformas, gasodutos, refinarias, bens e serviços destinados ao fornecimento de demandas que representam mais de 25% do total mundial de investimentos na cadeia de gás e petróleo “offshore” do mundo.
Estamos implementando um conjunto de grandes projetos de mobilidade urbana, hotelaria e demais serviços associados à infraestrutura relacionada à Copa do Mundo, em 2014, e às Olimpíadas, em 2016.
Por isso, existem grandes oportunidades no Brasil. Também estamos ampliando nossos investimentos em ciência, tecnologia e inovação, bem como na construção de um desenvolvimento ambientalmente sustentável.
Nós hoje combinamos estabilidade econômica, crescimento acelerado, projeto estratégico de desenvolvimento, impulso à ciência, tecnologia e inovação, inclusão social e distribuição de renda, Estado de Direito democrático, estabilidade política, compromisso com os direitos humanos e com a sustentabilidade ambiental e um profundo sentimento de autoestima de nosso povo.
O mundo do século XXI, senhoras e senhores, requer criatividade para forjar novos laços entre regiões e continentes. A Ásia e a América Latina podem e devem estreitar seus vínculos, seus laços, seus negócios e suas parcerias, reduzindo distâncias físicas, aproximando visões de mundo, integrando povos e culturas.
Atuamos em cenários econômicos, políticos e sociais distintos. Não buscamos modelos únicos, nem tampouco unanimidades. Os consensos que se tentaram na história recente sob a égide do mercado ou do Estado, e que supostamente nunca falhariam, mostraram-se frágeis como um castelo de cartas. O grande desafio é construir na diversidade, associando distintos projetos em ambiente de cooperação para o desenvolvimento de todos.
Espero que neste 10º Fórum de Boao, que eu tenho o prazer de comparecer, que ele se fortaleça e que também se fortaleça a determinação de romper paradigmas para aperfeiçoar um diálogo pioneiro entre Estados, sociedades, empresas e instituições, para juntos vencermos os desafios de construir um mundo com as nossas melhores tradições de humanidade, de paz e de solidariedade.
Muito obrigada.(Da Secretaria de Comunicação da Presidência da República)