Entenda como o preço da celulose impacta o mercado

A matéria-prima influencia toda a cadeia de produção e sofreu grandes mudanças na pandemia

A pandemia de Covid-19 obrigou todas as indústrias a se adaptarem de maneira rápida para atender às novas demandas de uma sociedade com desafios nunca antes vistos. Em um mundo onde o isolamento social se tornou uma realidade, algumas verticais de mercado se tornaram ainda mais indispensáveis.

Com o aumento das compras em lojas virtuais e pedidos por delivery, o mercado de embalagem de papelão foi um dos que mais cresceu com a pandemia. De acordo com a Associação Brasileira de Embalagens de Papel (Empapel) , houve um crescimento de 5,5% na expedição de caixas, chapas e acessórios de papelão em 2020.

Apesar das boas notícias, o período foi muito desafiador para a indústria papeleira, visto que o setor de celulose vem sendo constantemente impactado pelas mudanças causadas pela pandemia, incluindo um novo modelo de consumo.

Neste artigo, vamos falar sobre como o valor da celulose tem impactado o mercado de papel e papelão nos últimos anos, como a indústria está lidando com os novos desafios e quais foram as transformações dos consumidores destes produtos ao longo do último ano.

Preço da celulose e seu impacto no mercado

A celulose é uma das principais matérias-primas para a produção de papel. Por isso, qualquer tipo de mudança em seu custo inicial influencia todo o segmento, que depende deste material para a manufatura de seus produtos.
Até antes da pandemia, o mercado de celulose vinha sofrendo com quedas nos preços da matéria-prima, principalmente por conta do excesso de estoque existente até então. O novo cenário, porém, aqueceu o mercado, que passou a ser mais demandado que nunca e, consequentemente, teve uma queda em seus estoques.

Foi possível ver uma disparada no preço da polpa de celulose nos Estados Unidos, que foi de US$ 606 por tonelada métrica em setembro de 2020 para US$ 907 por tonelada métrica em abril de 2021.

Mas isso representa algum tipo de aumento de custo para quem precisa de embalagem de papelão para os seus negócios? Especialistas do setor dizem que é importante ficar de olho, mas a alta demanda deve fazer com que esta conta se mantenha equilibrada em médio prazo.

Em entrevista, a presidente da Empapel, Gabriella Michelucci, afirmou que “o mercado interno está aquecido e a procura continua intensa. Por isso, os investimentos na área estão subindo, para atender à demanda disparada de entrega de alimentação e compras por e-commerce”.

Existem outras matérias-primas além da celulose?

As aparas do papel e do papelão são produzidas a partir da coleta do próprio papelão ou papel, que é reciclado para, depois, se transformar em outros produtos.

Com a pandemia, as empresas que utilizam as aparas como principal matéria-prima de seus produtos também sentiram os impactos na produção.

Além do alto custo do dólar, o setor também é afetado pelo aumento no valor direto do insumo. Um balanço realizado pelo jornal Valor Econômico entre abril e junho de 2021 mostrou que o preço das aparas subiu 173,5%, chegando a R$ 1,7 mil por tonelada.

Este aumento no preço aconteceu por decorrência das variações causadas diretamente pelo consumo, como a quantidade de caixas utilizadas no comércio e as mudanças na demanda por papel reciclado, por exemplo.

O impacto da pandemia e mudanças no perfil do consumo

A indústria de papel e celulose sempre foi uma das mais competitivas do Brasil . A produtividade de pinus e eucalipto, variedades de árvores que são as principais fornecedoras de celulose, é a maior do mundo, o que faz com que sejamos expoentes mundiais neste segmento.

A maturidade do mercado foi um fator positivo para lidar com todas as variáveis ocasionadas pela pandemia do coronavírus, suportando de maneira mais positiva os impactos causados pela crise sanitária.

Apesar disso, as novas necessidades dos consumidores finais levaram a uma completa reinvenção dentro do mercado de papel e de embalagem de papelão, como por exemplo:

• Crescimento de embalagens para alimentos: a indústria de alimentos é a que mais demanda o uso embalagens no Brasil durante a pandemia, atrás apenas da indústria do fumo.

Nesse período, o segmento alimentício representou um crescimento de 4,2% no consumo de embalagens. Com o crescimento de 187% nos gastos com delivery em 2020, as embalagens de papelão se tornaram indispensáveis para atender os clientes.

• Crescimento para o setor de fumo: as embalagens para fumo também passaram a ser muito procuradas durante a pandemia. Um estudo da Fiocruz mostrou que 34% dos fumantes brasileiros aumentaram a quantidade de cigarros consumidos no período. Isso levou a um crescimento de 10,1% na procura por embalagens.

• Queda nos setores de vestuário e de couro e calçados: com mais gente dentro de casa por mais tempo, a compra de sapatos e roupas diminuiu consideravelmente – estima-se algo em torno de 20% para calçados e -6,6% para roupas e acessórios. Isso refletiu na produção de caixas para calçados, que teve que rever seus níveis de fabricação.

Tantas mudanças foram implementadas de maneira rápida para atender à nova demanda do consumidor final, que está passando muito mais tempo dentro de casa e foi obrigado a mudar completamente seus hábitos de consumo.

O impacto dessas mudanças de comportamento pode ser percebido diretamente na atividade industrial e na produção de papel e papelão. Com a dificuldade de acesso aos insumos, os reajustes de preço se tornam mais frequentes do que o que acontecia em outros períodos pré-pandemia.

As alterações nos preços da fibra e da polpa de celulose levam a uma reinvenção ágil do setor. Isso ajuda a fazer com que os produtos ainda sejam acessíveis para os comerciantes. Desta forma, será possível buscar e criar novas soluções mesmo durante um período desafiador como a pandemia.

Por Maria Gabriela Ortiz

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