Entrevista coletiva concedida por Dilma em Nova York

Confira na íntegra da entrevista coletiva concedida pela presidenta Dilma Rousseff no  Hotel Waldorf Astoria, Nova York, nesta quinta-feira , 22 de setembro de 2011

Presidenta: Bom, eu queria, primeiro, dizer que foi uma viagem com muitos compromissos. Nós tivemos oito encontros bilaterais com vários presidentes e chefes de Governo. Tivemos também três reuniões importantes na ONU, uma relativa a doenças crônicas não transmissíveis; uma outra relativa à questão do empoderamento das mulheres e da participação das mulheres; uma terceira reunião a respeito da questão da segurança nuclear; e a abertura da 66ª Reunião, Debate Geral da Assembleia…

(falha no áudio)

…uma série de pontos relativos à pauta internacional das relações entre as nações: a questão dos direitos humanos; a questão da responsabilidade, que nós chamamos “responsabilidade de proteger populações civis”, mas também responsabilidade ao proteger; o reconhecimento do Estado Palestino; todas as questões relativas aos últimos acontecimentos internacionais, notadamente a chamada “Primavera Árabe”; toda a questão relativa à Líbia, à reconstrução, à importância das Nações Unidas nessa reconstrução.

Do ponto de vista do Brasil a crescente importância da nossa região como sendo uma região com taxas elevadas de crescimento, com uma clara política de distribuição de renda e inclusão da sua população e a criação de um mercado, dentro dessa região, um forte mercado interno, em torno de uns 500 milhões de pessoas. Considerando, inclusive, a importância da relação da América do Sul, stricto sensu, com o Caribe e, inclusive, com o México. E o fato de que esta é uma região que vive em paz por mais de 140 anos, é uma região sem conflitos étnicos, é uma região que tem um compromisso claro com a questão da paz e, sobretudo, é uma região sem armas atômicas. O que configura para a América Latina um novo tem, também. Nós somos aqueles que conhecemos o processo de crise. Nós sabemos perfeitamente que não se sai de momentos profundos de crise através de políticas recessivas.

Nós ficamos, por duas décadas, e temos experiência suficiente, tanto nós como até a própria Argentina, no caso que cada um dos países sofreu da sua forma, a crise da chamada “crise da dívida dos anos 80”. Agora, algumas experiências recentes são muito ilustrativas: o caso da Argentina, que também tinha uma moeda fixa ao dólar e que passou por um processo extremamente difícil, e todos nós aprendemos muito com isso.

Então, eu acredito que a presença aqui, do Brasil, tem esses três… essas três dimensões. Obviamente fora o fato de o Brasil também ter tido, nos últimos tempos, uma experiência muito bem-sucedida, quando nós conseguimos fazer uma política clara de estabilidade macroeconômica, de crescimento e inclusão social.

E agora nós temos extrema clareza de que essa política tem que ser completada com inovação e com o crescimento da qualidade dos serviços públicos do Brasil, nas áreas que nós tratamos aqui, em especial Educação e Saúde, mas há outras áreas que também merecem atenção.

Seria dessa forma o meu resumo. Eu só queria lembrar que os encontros bilaterais foram com o presidente do México, o Calderón; com o presidente Barack Obama; com o secretário-geral Ban Ki Moon; com o presidente do Chile, o presidente Piñera; o Primeiro-ministro Calderon… Ah, desculpa, Cameron; o presidente Sarkozy; o presidente do Peru, o Holanda Humala e o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. Foram com esses as bilaterais.

Jornalista: Ontem no seu discurso, no Plenário das Nações Unidas, a senhora fez um alerta sobre a situação econômica mundial, sobre a crise econômica, e houve, inclusive, uma repercussão importante na mídia internacional do que a senhora disse. E não deu outra: mais tarde o dólar disparou, os jornais estão dizendo que a Grécia pode quebrar em alguns dias. E a situação no Brasil, também houve uma repercussão muito importante, com a disparada do dólar, a queda das bolsas. Queria saber como é que a senhora está acompanhando essa situação com os ministros, no Brasil, que tipo de conversa a senhora está tendo, a avaliação – o ministro Mantega, que está aqui também. Que tipo de providência será tomada, além do que o Banco Central vem fazendo. E qual a preocupação da senhora com o reflexo disso na inflação no Brasil.

Presidenta: Olha, nós temos conversado bastante entre nós. Eu tenho conversado com o ministro Guido Mantega, que está em Washington, com o ministro Tombini, que chegou hoje a Washington. Então, eles têm reuniões, tanto com os ministros de Economia quanto os presidentes do Banco Central dos Brics. Depois tem uma reunião com os ministros de Economia e presidentes dos Bancos Centrais do G-20.

E o ministro Guido e o ministro Tombini vão fazer uma conversa com o (incompreensível) e com o (incompreensível), hoje ainda. Então, na verdade, o que tem acontecido nos últimos dias é que há uma percepção, pelo mercado, de que é necessário que se resolva a questão da Grécia, que não se pode mais protelar a resolução do problema da Grécia. Isso é importante tanto por conta da Grécia, especificamente, quanto para evitar o contágio.

Além disso, nos últimos dias, sete bancos italianos foram rebaixados pela Standard and Poors e três bancos dos Estados Unidos pela (incompreensível). Além do comunicado que causou várias reações pelo mercado, do Comitê, do FOMC, do Federal Operation Monetary Commission americano, que produziu inquietações.

Mas os mercados, no curto prazo, são assim, eles têm essa volatilidade, eles, assim como sobem, eles descem, não é? E nós… E a política do Banco Central e a orientação do ministro Guido é no sentido de estabilizar o mercado brasileiro.

Nós não temos… Nós não temos a mesma situação, nós somos um país com uma relação de endividamento muito baixo. Nós temos as nossas contas públicas em ordem, nós temos… nós somos um dos países com a mais elevada acumulação de reservas. E também temos recurso a toda a regulação dos bancos brasileiros, que é muito sólida essa regulação, que é responsável, por exemplo, por em torno de R$ 420 bilhões depositados no Banco Central, a título de depósitos compulsórios. Nós temos bancos saudáveis, nós temos uma situação diferenciada.

Agora, sem sombra de dúvida, essa segunda fase da crise econômica, como ela não é aguda, ela pode até se agudizar bastante, mas, além de aguda, ela parece ter uma característica sistêmica, assim, permanente – e isso significa uma economia, durante algum tempo em recessão – o Brasil tem de se preparar cada vez mais para isso.

Neste momento, que é um momento de volatilidade dos mercados, de nervosismo dos mercados, a nossa atitude é de calma, tranquilidade e de estabilizar todo o processo. Tanto o ministro Tombini – eu repito –, como o ministro Guido, estão tomando as providências cabíveis. Mas nós não estamos tomando ainda nenhuma medida inusual. São as mesmas medidas de sempre: os swaps e, eventualmente, também ainda não compramos dólares, assim, em quantidade, porque não tem problema no mercado spot, e acredito que as coisas vão se ajustar.

Agora, quero dizer que nós estamos prontos, completamente prontos. Monitoramos a nossa economia todos os dias e a mesma coisa fazemos com a economia internacional. E esperamos, com muito empenho, e por isso estamos participando de todos os fóruns multilaterais, de todos os encontros com presidentes, e falei isso dentro da Assembleia Geral, esperamos que a crise seja resolvida. Nós não somos responsáveis pela crise e não somos aqueles que sofrem a crise diretamente. Não somos. Não há a menor dúvida. Mas também não se pode alegar que não soframos as consequências indiretas da crise. Sofremos. Primeiro, porque o mercado internacional reduz, não é? Ele se reduz, na medida em que as economias desenvolvidas diminuem o tamanho de seus mercados, na medida em que há desemprego, na medida em que há contração da demanda.

Sofremos as consequências e, como sofremos as conseqüências, julgamos que temos todos os direitos de participar e de discutir as saídas. Consideramos que é importantíssimo que a prioridade seja dada para a solução da crise soberana, que se constitua um processo de resgate ordenado, de qualquer forma, ordenado da Grécia, que se delimite os efeitos e as consequências da situação grega, impedindo que ela afete outras economias e, portanto, a partir daí, que ela tenha efeito de afetar outras mais ainda.

E julgamos que o G-20, na França, tem de tratar das questões relativas à nova configuração tanto dos organismos multilaterais, também, quanto a configuração das soluções para a saída dessa crise, que eu não acredito que seja passível de ser dada pela ação de uma economia ou de um grupo pequeno de países. Acho que é uma questão que nós temos de procurar a solução conjuntamente nos moldes, até muito bem feitos, daquele momento em 2008/2009 quando o mundo reagiu de forma organizada e coordenou políticas macroeconômicas.

Jornalista: (inaudível)

Presidenta: Olha, é… tudo indica que a tendência internacional é deflacionária. Mais cedo ou mais tarde, essa característica vai ocorrer no mundo. Nós sempre, eu sempre digo para vocês que, do ponto de vista da nossa preocupação com a inflação, ela é perene. Sempre o nosso olhar está dividido entre olhar a inflação e, ao mesmo tempo, sustentar o crescimento. E combinar esses dois… essas duas formas de perceber a questão.

Eu disse ontem que não é possível mais dar respostas antigas e velhas e ultrapassadas, e que é importante procurar respostas novas para problemas novos. Eu não acredito, de maneira alguma, que se saia da crise produzindo recessão. Acho que não se sai até porque eu vi recentemente uma declaração do Fundo Monetário que dizia o seguinte: o risco na economia internacional é de uma espiral recessiva. Ou seja, nós reduzimos o crescimento. Quando você reduz o crescimento, você reduz a capacidade da economia pagar suas dúvidas. Assim sendo, você aumenta o déficit. Assim sendo, você exige mais restrição. Assim sendo, você aumenta a dívida, aumenta o déficit e exige mais recessão. Essa é a típica espiral recessiva em que está imersa a Grécia.

Nós não só não concordamos com isso, como temos a experiência de duas décadas perdidas a respeito desse método de saída. Agora, eu acredito que vai ser necessário desvalorizar as dívidas existentes. Sem isso, você também não sai.
Então, o Brasil está numa situação tranquila, nós não podemos ficar pregando receituários para o mundo, nós queremos é participar, assumir nossas responsabilidades.
Uma das nossas responsabilidades é garantir que a economia internacional não seja… não tenha um nível de crescimento muito baixo. É uma responsabilidade dos emergentes, porque somos os segmentos hoje que seguram o crescimento internacional e queremos participar da solução. Queremos assumir as responsabilidades de participar da solução. Obviamente não podemos substituir a iniciativa de ninguém, até porque essa crise não é necessariamente por falta de recursos financeiros. É por concepção política e por, eu diria, necessidade de medidas que, quanto mais céleres forem, melhor será para todos nós.

Jornalista: Presidente, eu queria que a senhora comentasse a aprovação da Comissão da Verdade no Congresso Nacional. A senhora mencionou esse projeto no seu Encontro sobre Governos Abertos e houve… Eu soube que a senhora atuou para a aprovação desse projeto ontem, no Congresso, que houve contatos com a senhora pela ministra Maria do Rosário – que a senhora comentasse.

Outra coisa também que está atrasado no Brasil é a criação da Agência Nuclear, que a senhora hoje defendeu que essas armas sejam completamente destruídas, que a ONU deve acompanhar isso e haver mais fiscalização. Como é que o Brasil vai atuar nesse processo, na questão interna das usinas…

Presidenta: Vamos fazer o seguinte, gente…

Jornalista: Que podem até ser… Se elas vão continuar.

Presidenta: Um acordo. Vamos fazer um acordo? É o seguinte o acordo: aqui, eu respondo pelas coisas daqui, porque são várias. Lá no Brasil, eu respondo pelas coisas do Brasil.

Eu te falo, assim, bem simplificadamente, não vamos debater isso aqui, mas eu respondo por respeito. Eu acredito que é importante a aprovação da Comissão da Verdade, é importante para o Brasil e é importante para a posição do Brasil diante do mundo. O Brasil tem uma presença muito pequena na área nuclear. Essa presença pequena do Brasil na área nuclear nunca impediu o Brasil de tomar posições muito corretas e eu dei como exemplo hoje a ação conjunta do Brasil com a Argentina, a Agência de contabilidade com a Argentina que funciona há mais de 20 anos. É raro você ter, no mundo, dois países dividindo responsabilidades na área que eles chamam de contabilidade e segurança nuclear. Nesse sentido é que eu falei da agência. Ela existe.
Quanto à questão nuclear no Brasil, nós temos os órgãos que cuidam que é a nossa única… uso mais difundido. Tem médico também, todos os aparelhos que usam a medicina nuclear. Mas esse tem um outro tratamento. Na questão nuclear da energia elétrica está restrito aos órgãos de controle que o Brasil tem nessa área.
Nós, depois de Fukushima mandamos fazer uma revisão na tecnologia que nós usamos, a tecnologia das nossas duas… das nossa duas plantas. Nós só temos duas plantas. Essa terceira não é… ela está em construção, então ela está usando o que há de mais moderno hoje, no mundo. Está fazendo adaptações.

Jornalista: (inaudível)

Presidenta: Não, não vai. Agora, o Brasil não é… não tem o mesmo problema dos outros países, que são dependentes da nuclear. Nós não somos dependentes da nuclear, nós temos uma participação absolutamente marginal de nuclear na matriz energética. Muito pequena essa participação.

Então, eu entendo que os países que tenham dominância da energia nuclear estejam hoje diante de decisões importantes, estratégicas. Agora, o Brasil é um país que optou, há muitos anos, pela energia renovável. Nós só usamos 28% do nosso… Hoje deve estar mais, deve estar uns 30, é, uns 30%, no máximo, do nosso potencial hidrelétrico. Temos, ainda, biomassa, e temos eólica. Obviamente que ninguém vai segurar um país do tamanho do Brasil com eólica, não sou ingênua de falar uma coisa dessas, até porque eu conheço essa área. E temos o pré-sal com uma porção de gás, que vai permitir que a gente tenha térmicas do (incompreensível) a gás.

Jornalista: Presidente, Cristiane (incompreensível) do jornal O Globo. Dois pontos que a senhora colocou no seu discurso de ontem. Um foi em relação à questão da guerra cambial mundial, inclusive a senhora cita isso num artigo no Financial Times. A senhora acha que no dia de hoje o Brasil estaria sofrendo o impacto dessa instabilidade cambial mundial?

E, no caso, um outro ponto que a senhora colocou, do Conselho de Segurança da ONU, colocou que o Brasil está pronto para assumir uma vaga permanente no Conselho. A senhora recebeu ontem o apoio dos primeiros-ministros da França e do Reino Unido. A senhora acha que o Brasil está cada vez mais perto dessa vaga, finalmente? Obrigada.

Presidenta: Olha, eu vou começar pela sua última pergunta. Eu acho importante para o mundo que a gente atualize o Conselho de Segurança. O Conselho de Segurança, no seu formato atual, ele foi produzido em um outro contexto, tanto econômico como geopolítico, como, eu acredito que, baseado em uma visão de mundo que dava vantagens inequívocas para aqueles países que tinham o controle da tecnologia nuclear. O controle dos armamentos nucleares e um Conselho de Segurança formatado desse jeito são irmãos siameses. O mundo caminha por uma outra concepção. E há uma nova realidade econômica, os emergentes são uma realidade.

Então, eu acredito que os pleitos, tanto para ampliar e modificar os membros permanentes quanto para integrar os não permanentes com novas nações, são pleitos justos e legítimos. O Brasil pleiteia ser membro permanente, junto com o grupo do G4. Se eu não me engano, é Índia, Brasil, Japão e Alemanha. O Japão e a Alemanha, fora do Conselho de Segurança Nacional por causa da Segunda Guerra Mundial. A Índia e o Brasil, porque nós éramos economias dos emergentes, pura e simplesmente, naquele então. E, hoje, somos… Aliás, não éramos economias emergentes. E, hoje, somos economias emergentes, com uma importância no mundo.
    A outra pergunta, você me desculpa…?

__________: a Guerra Cambial.

Presidenta: A guerra cambial.

Jornalista: … cambial. O Brasil está sendo afetado por ela.

Presidenta: Olha, a guerra cambial, ela se deu, e se dá, e se dará enquanto nós não tivermos uma articulação macroeconômica que faça com que, quando você toma uma determinada medida, você tem de olhar o impacto dela sobre os seus vizinhos. Mesmo a gente considerando importante, entendendo por que é importante para alguns países expandirem a sua política monetária e colocarem os seus juros a zero, esse fato, ele cria uma competitividade para as economias desses países que expandiram suas moedas e colocaram os seus juros a zero indevida. Indevida por quê? Porque cria uma valorização das moedas dos países que não fizeram isso extremamente adversa. Por quê? Nós teremos uma valorização do Real que não é uma valorização sistêmica, mas é operada por fatores que não são aqueles baseados, por exemplo, no mercado, mas sim baseados na política. Aí, enquanto houver esse tipo de conduta, você estará em um processo de guerra fiscal.

Eu tenho a declarar que esses movimentos de instabilidade hoje – porque não foi só o Real, não é, gente? Houve uma modificação na relação dólar-demais moedas, onde o dólar vinha se desvalorizando e as outras moedas se valorizando. Nos últimos dias, houve uma fuga para a segurança, e inverteu. Esse movimento recente é mais um movimento de instabilidade dos mercados internacionais.

Ministra Helena Chagas: Gente, me parece que agora é a última? Vocês estão fazendo dois em um não é? Cada um está fazendo (incompreensível).

Presidenta: É, uma forma de a gente ter uma…

Ministra Helena Chagas: Cinco viram dez.

Presidenta: … proliferação monetária de perguntas. É o quantitative easing das perguntas.

Ministra Helena Chagas: Vamos lá, mais duas, mais duas.

Presidenta: Emissão de perguntas.

Ministra Helena Chagas: Duas pessoas, vamos lá.

Jornalista: Boa tarde, Presidente.

Presidenta: Boa tarde.

Jornalista: Sandra Coutinho, da Globonews. Eu queria perguntar para a senhora se a senhora recebeu alguma repercussão para as propostas do discurso de ontem, de líderes mundiais, se a senhora recebeu apoio para outras propostas, além do Conselho de Segurança. Porque a senhora falou do seu pleito, mas eu gostaria de saber de repercussões sobre a…

Presidenta: Olha, eu queria te dizer o seguinte: no geral, eu recebi muito… eu te diria assim, muita manifestação de concordância, muita manifestação de concordância.

Especificamente houve – eu queria destacar uma, que vai dar origem a uma consequência – que foi a do presidente Juan Manuel Santos, porque com ele eu acertei que nós precisamos estreitar as relações dentro dos países da Unasul e, portanto, que iríamos fazer uma reunião de presidentes de Banco Central e de ministros da Economia da região mais uma vez, no sentido de concertar, de acertar e de articular todas as reações macroeconômicas que vamos fazer. E também de dar a importância merecida para o nosso mercado regional que hoje é, sem sombra de dúvida, um dos mais interessantes do mundo. Uma ministra argentina usou uma expressão muito boa. Ela disse que nós éramos “apetecibles”. E eu acho que nós somos apetecibles.

Ministra Helena Chagas: Vamos lá?

Jornalista: Não, espera aí, sou eu. Lisandra Paraguassu, do Estado de S. Paulo, Presidente. Também nas conversas com os presidentes, especialmente o primeiro-ministro David Cameron e o presidente Sarkozy, eu sei que a senhora tratou da crise econômica mundial e da reunião de Cannes. Eu queria saber se foi acertada alguma coisa para se discutir em Cannes, como uma medida, especialmente em relação à Grécia e a esses outros países que estão em crise?

Presidenta: Olha, o que eu senti é que a questão relativa à Grécia, ela não vai esperar Cannes, não. Eles vão ter de acertar isso antes. Porque Cannes é quando de novembro?

____________: Três e quatro de novembro.

Presidenta: Três e quatro de novembro. Ainda tem o resto de setembro inteirinho e todo outubro. Eu acho muito tempo. Acho preferível que… e senti, da parte deles, uma certa sensação de importância na solução desses problemas o mais rápido possível.

Obviamente que o que eu acho que vai estar colocado em Cannes e que eles também se manifestaram nesse sentido é a questão da discussão de como conduzir, como continuar as medidas de reforma dos organismos multilaterais, como o Fundo Monetário, o Banco Mundial, como melhorar a gestão e a concertação das medidas macroeconômicas comuns; quais serão as medidas prudenciais que devem ser tomadas nas esferas financeiras. Enfim, é aquela pauta que já vem de longe e que não foi completada, agora com uma urgência maior e com um cenário mais definido e claro de recessão duradoura ou de, no máximo, estagnação duradoura das economias centrais.

Jornalista: Presidente, boa tarde. Cristina Índio do Brasil, G1 e CBN. A senhora ontem, no discurso, disse que a solução dessa crise tem que ser coletiva. Nesse processo, o que cabe ao Brasil, qual é a participação, qual é o papel que o Brasil desempenha nesse processo coletivo?

Presidenta: Olha, o Brasil está naquela situação em que ele pode desempenhar vários papéis. O primeiro papel é ter… Eu acho que é muito importante diante de uma crise, é participar do diagnóstico. Porque, se você sabe do que essa crise é, você sabe que medidas tomar. Então, nós estamos prontos a participar do diagnóstico. Nós estamos prontos também a dar a nossa contribuição, desde que ela seja uma contribuição que faça parte de um processo de solução do problema macroeconômico, ir muito claramente ao ponto.

O governo brasileiro não acha que nós iremos e que nós solucionaremos o problema europeu, por exemplo, colocando dinheiro das nossas reservas no Fundo de Estabilização, porque não é esse o problema. Nós faremos qualquer medida que o mundo reparta entre si, desde que fique claro qual é o caminho que querem adotar. Nós não achamos que a questão – vou repetir – é falta de dinheiro. Nós achamos que a questão é falta de recursos políticos, eu chamaria, como eu disse no meu discurso. Não é de recursos financeiros.

Então, estamos dispostos – nunca nos recusamos, no passado, a participar com recursos financeiros – e estamos dispostos, neste momento, a participar com nossos recursos políticos.

Ministra Helena Chagas: Gente, obrigada. Tem um último, está bom. Só um último.

Jornalista: (inaudível) …diplomacia, é na atuação… Vinícius Donald, TV Record. É para entender um pouquinho mais esse conceito que a senhora citou agora, de recursos políticos, como que a gente pode…?

Presidenta: Decisão política. Uma delas… Um dos recursos políticos é de decisão política. Há que decidir o que se faz, em relação à Grécia. Ninguém aqui acredita que um pacote de 8 bilhões resolva o problema da Grécia. Então, você tem de buscar a solução que seja politicamente consistente com o problema.

Jornalista: (incompreensível) considera politicamente consistente?

Presidenta: Eu não acredito em uma saída para a Grécia que simplesmente obrigue a Grécia sistematicamente a fazer cortes de 20%, cortar todo o seu funcionalismo público, vender o Parthenon… Além de vender o Parthenon, o que mais ela pode vender? As ilhas gregas… Eu não acho que essa solução seja correta.

Jornalista: O que seria consistente, na opinião da senhora?

Presidenta: Acho que seria correto uma linha de financiamento para a Grécia, a redução da dívida grega, uma discussão séria entre os países de como é que a Grécia se resolverá, dentro da União Europeia. Eu não posso te convidar para uma festa de debutante e não deixar você comer o bolo.

Jornalista: (incompreensível)

Ministra Helena Chagas: Gente, obrigada, hein? Obrigada, gente.

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