História dos moradores do casarão do Museu de Itaporanga (SP)

Por *Valdemar de Oliveira Leite

História dos Moradores no Casarão desde o capitão Joaquim José Villela Magalhães (Quim Vilela), sua esposa Virginia Maria Soares e seus pelo menos 10 filhos, até chegarmos ao nosso mais contemporâneo morador, o memorável Professor João Batista de Magalhães Castilho.

 

O Capitão Joaquim José Vilela de Magalhães, carinhosamente chamado de “Quim Vilela”, foi o último sucessor de Frei Pacífico de Montefalco e do sertanista Luís Pereira de Campos Vergueiro na direção da Missão Capuchinha-Guarani de São João Batista do Rio Verde.

“Quim Vilela” foi um dos bisavôs materno do Professor João Castilho e um dos bisavôs paterno do saudoso Professor Ulisses Vilela e da Professora Alaíde Vilela, dentre outros, e dono do Casarão onde abriga a sede do Museu da Paulistânia Professor João Castilho. Esse Casarão, segundo o Professor João Castilho, é patrimônio histórico, conforme disse em entrevista escrita e gravada no dia 17 de setembro de 2018:

“JC – Então… Ah! Do meu bisavô, não é? Então, esse Joaquim José Vilela de Magalhães, ele foi o último sucessor de Frei Pacífico na direção dos índios, era dono desta casa. Minha mãe contava que ela era menina, e ia visitar o avô, e a frente de nossa casa cheia de índios! E aqui dentro, nesta sala mesmo, sentado, atendendo aos índios, fornecendo remédio. Ele tinha uma paixão pelo trabalho que ele exercia como sucessor do Frei Pacífico, como diretor dos índios. Então, esta casa depois vovô herdou do pai dele. Depois minha mãe herdou do vovô e… eu fiquei, ficou comigo. É a casa mais antiga de Itaporanga, que está em pé, é esta aqui. Eu só temo o seguinte, na hora que eu partir, os herdeiros que vão vendê-la. E eu sei de gente que está doido pra comprá-la, pra desmanchá-la e fazer um prédio de comércio, entende? E é uma judiação, porque isto aqui a prefeitura poderia comprar e transformar num museu.”

Muitas dessas informações que temos, como a que antes citamos, chegam-nos pela célebre entrevista desenvolvida a partir do Angra Doce: potencial do desenvolvimento turístico e inserção regional no Pacto Global (eixo temático Patrimônios). Sim, foi no dia 17 de setembro de 2018 que a Professora Doutora Fabiana Lopes da Cunha (UNESP – Ourinhos-SP) encaminhou a doutoranda Rafaela Sales Goulart à cidade de Itaporanga (SP) para realizar essa entrevista com o professor João Castilho” ou “Seu João”. Foi uma entrevista inspirada pela Providência Divina, pois em 2020 o Professor João Castilho faleceu.

Na casa do entrevistado, o casarão, local onde o trabalho foi realizado, estavam presentes Cassiano Godoy (Secretário de Turismo e Cultura de Itaporanga), Gabriela Maciulevicius (então funcionária da Secretaria de Turismo e Cultura de Itaporanga) e Alaíde Vilela (prima segunda do entrevistado; professora de português aposentada; membro do Conselho de Turismo de Itaporanga e membro do Conselho Fiscal do hoje Museu da Paulistânia Professor João Castilho).

Voltando ao “Quim Villela”, recorramos à genealogia para contar sua história e também do próprio Casarão onde abriga o Museu.

Sabe-se que “Quim Villela” foi batizado em Borda da Mata, anteriormente distrito de Pouso Alegre, Minas Gerais, no dia 06 de julho de 1839, quando contava com 1 mês de idade. A família Vilela de Magalhães já era destacada em Borda da Mata-MG, uma vez que em 09/06/1835, entre os primeiros juízes de Paz de Borda da Mata eleitos estava Francisco Vilela de Magalhães.

Os pais de “Quim Vilela” eram José Caetano Vilela e Anna Luiza da Conceição. Esse casal teve pelo menos 14 filhos.

Do ponto de vista da genealogia, a junção dos sobrenomes Vilela Magalhães vem dos avós paternos de Quim Vilela. Resultou da união de duas famílias importantes de Minas Gerais. Sim, os avós de Quim Vilela eram o Capitão Caetano José de Souza Magalhães e Felícia Maria Vilela, casados em Aiuruoca, Minas Gerais, em 11 de maio de 1787. Seus antepassados eram do norte de Portugal. O Bisavô paterno de Quim era o Capitão Roque de Souza Magalhães, nascido na Região de Braga, o norte de Portugal. Já o bisavô materno era o Capitão Domingos Vilela, também português, que recebeu sesmaria na freguesia de Aiuruoca em 1753.

Os avós de “Quim” Vilela (Capitão Caetano e Felícia Vilela) tiveram pelo menos 14 filhos. Entre esses filhos, alguns, pelo menos 2, migraram com suas respectivas famílias para São João Batista do Rio Verde, isso ainda na formação do povoado.

Certamente vieram atraídos pelo Barão de Antonina, cuja história temos contada no livro lançado no Museu no final do ano passado, de autoria do memorável Desembargador Antonio Luiz Ribeiro Machado, descendente do Barão, com edição do nosso querido Sebastião Pereira da Costa, o SPC.

 

Os Vilela Magalhães que migraram para São João Batista do Rio Verde

Um dos filhos do avô paterno do Quim Vilela, portanto Tio do Quim, chama-se Antonio Vilela de Magalhães. Antonio juntamente com sua sobrinha e cunhada, Anna Joaquina de Souza, fizeram vários registros de terras, cujas declarações eram tomadas pelo Frei Pacífico entre os anos 1854 e 1857.

Uma curiosidade: Antonio Vilela de Magalhães, Tio do Quim Vilela, casou-se com sua sobrinha 10 anos mais nova, Maria Bárbara de Sousa, no dia 9 de junho de 1840, em Pouso Alegre-MG. Esse casamento ocorreu sob licença, como era o costume e foi celebrado pelo Vigário José Pedro.

Casamento entre Tio e Sobrinha é chamado avuncular, e até hoje ainda é aceito em certas circunstâncias, com autorização judicial. Isso ocorria muito à época, principalmente por conta de manutenção de propriedades no âmbito familiar.

Seguindo essa possibilidade que a Igreja/Estado permitia, Filhos do Capitão Caetano Magalhães e Felícia Vilela casaram-se entre parentes próximos. Isso ocorreu após a morte da filha Maria Caetana de Souza, Tia de Quim Vilela, batizada em 06 de janeiro de 1789, na Ermida de Bom Jesus do livramento, filial da matriz de Aiuruoca-MG.

Essa tia de “Quim Vilela”, Maria, a 2a filha do Capitão Caetano Magalhães e Felícia Vilela, era casada com Joaquim Alves Fagundes.

Possivelmente tinham muitas posses, razão pela qual, em 04 de junho de 1840, o viúvo Joaquim Alves Fagundes se casa com a cunhada Luciana Maria Vilela, também Tia de Quim. Logo em seguida, no dia 08 de junho de 1840, Antonio Vilela de Magalhães se casa com a sobrinha Maria Bárbara de Souza, filha da finada Maria.

Após a morte de Maria, parte da família do Capitão José Caetano e Felícia Vilela rumaram para o atual Sudoeste São Paulo. Nessa leva, também migrou o Quim Vilela.

Isso se percebe ao analisarmos os registros genealógicos e o Registro de Terras da Província de São Paulo, volume 151, local Itaporanga-SP, onde se vê as declarações de posses registradas pelo Frei Pacífico de Montefalco entre os anos 1854 a 1857.

Portanto, os Vilela Magalhães chegaram a São João Batista do Rio Verde por volta de 1847 a 1852, talvez seguindo a trilha de JOSÉ FRUCTUOSO PIMENTEL, que foi o pioneiro no desbravamento da selva virgem e concorreu para que outros habitantes de Minas viessem para povoar novas terras e na fundação de outras futuras cidades.

Sim, porque os Vilela Magalhães compraram direitos de posse de José Fructuoso Pimentel, entre outros, como se vê no Livro de Registros, volume 151, referidos nos registros 21, 22, 92, 119, 120 e 121.

Todos esses fatos apontam que José Caetano Villela, esposa e filhos, chegaram a Itaporanga antes de 1852, portanto são FUNDADORES. Consta que “Quim Vilela”, com 13 anos, já se encontrava em Itaporanga com sua família, pois seus pais foram padrinhos de Batismo de Vitalina, filha de Francisco Antonio Pereira e Maria Theodolina da Silva, no dia 1º de agosto de 1852. O batismo foi feito pelo Frei Pacífico de Montefalco.

Já com 28 anos de idade, em 03 de outubro de 1867, Joaquim José Villela (Quim) se casou com Vírginia Maria Soares, 16 anos, nascida em Faxina no ano estimado de 1851 (já poderia ser na povoação onde hoje é Itaporanga).

Virgínia era filha de Senhorinha Maria de Jesus, nascida no ano de 1827, em Faxina (Itapeva) e falecida em Itaporanga no ano de 1913. Senhorinha Maria de Jesus se casou com Fabiano Joaquim Ferreira Soares, também conhecido como Fabião. Não consta que Virginia fosse filha de Fabião, já que em seu casamento fez constar como filha de pai incógnito. Mas, Fabião e Senhorinha Maria de Jesus tiveram a filha Maria Rosa da Conceição em 1864, esta casada com Frederico Theobaldo Remer.

Também de se destacar que, no dia 25/10/1865, Virgínia e Fabião foram padrinhos de batismo de uma criança também de nome Virginia, filha de Manoel Francisco Rodrigues e de Ana Rosa. No batismo consta como solteiros, o que se deduz que Fabião, ou Fabiano Joaquim Ferreira Soares, não era o pai biológico da esposa de “Quim Vilela”. Ademais, nos registros de óbito de Virginía (1851 – 27/05/1913) e de sua mãe Senhorinha (1827-03.04.1913, 86 anos), com diferença de menos de 2 meses, dão conta de que Fabião era padrasto de Virgínia.

Outro destaque é o fato de que Virgínia faleceu com apenas 62 anos de idade na rua Coronel Macedo, residência de “Quim” (Casarão). Pela diferença de tempo da morte de sua mãe Senhorinha (menos de 2 meses), presume-se que tenha ficado muito triste com a partida de sua mãe Senhorinha, já que sempre estiveram juntas no decorrer da existência terrena. Senhorinha vivia bem próximo, na Rua 7 de Setembro, onde o Coronel Ignacio Gonçalves de Oliveira instalou o Asilo. Foram também ficar juntas no outro lado da vida. Viveram juntas e foram embora praticamente juntas.

Quem foi o pai de Virgínia é uma grande incógnita. Mas, Virgínia honrou seu padastro de nome Fabião, que certamente era um homem grande na compleição física e grande homem também na vida. Virginía homenageou Fabião repetindo seu nome em 2 filhos que teve com “Quim”. O Primeiro Fabião (1868) não sobreviveu. Mas, em 1871 nasceu Fabião Vilela, como veremos a seguir.

Vírginia Maria Soares e “Quim Vilella” tiveram pelos menos 10 filhos, todos nascidos em Itaporanga e moradores do Casarão, entre eles Fabião Vilela, nascido em 1871 e falecido em 1944, avô paterno da Conselheira Alaíde Villela, professora aposentada e membro do Conselho Fiscal do Museu da Paulistânia Professor João Castilho, além do Coronel Cristino Vilela de Magalhães, casado com Maria Francisca Russo, avós do Professor João Castilho. Maria Francisca Russo era filha do Italiano Luiz Russo e da catarinense Maria da Glória do Amaral Vasconcelos, casados em Capão Bonito-SP. Maria Francisca Russo teve pelo menos 6 irmãos entre eles o Coronel Vicente Russo do Amaral, que dá nome à Escola Municipal na rua Aparício Fiuza de Carvalho, 1056, Centro de Itaporanga-SP.

O Coronel Cristino, nascido em 1876 e falecido em 1949, e Maria Francisco Russo, nascida em 1871 e falecida em 1931, continuaram vivendo no Casarão, onde tiveram a filha Maria Cristina de Magalhães, nascida em 1898 e falecida em 1963.

Maria Cristina de Magalhães se casou, em 12 de fevereiro de 1918, com Oscarlino de Figueiredo Castilho, filho de José Custódio Viera de Castilho e Eugênia Maria de Figueiredo.

Maria Cristina de Magalhães e Oscarlino de Figueiredo Castilho continuaram a viver no Casarão, onde tiveram os filhos Celso Figueiredo Castilho (1920/1983), Maria de Lourdes Castilho (1923/1994), José de Figueiredo Castilho, o conhecidíssimo Frei Arnaldo Maria (1928/1976), Teresinha Figueredo de Castilho (1932/1932), João Batista de Magalhães Castilho (1935/2020), o nosso memorável Professor João Castilho e último morador do Casarão, e Luiza Antonia Castilho (1936/2001).

Por tudo que se viu, em conclusão baseada na entrevista do Professor João Castilho, a antiga casa do memorável historiador e Professor João, que hoje é a sede do Museu Histórico Cultural e Genealógico da Paulistânia Professor João Batista de Magalhães Castilho, é a construção mais antiga de Itaporanga – SP ainda em pé. João Castilho herdou a casa de sua mãe, que a recebeu por herança de seu pai, Coronel Cristino Vilela, que por sua vez havia recebido do Capitão Quim Vilela, último sucessor de Frei Pacífico na direção da missão indígena.

A casa tem um valor histórico imenso, sendo palco de um importante capítulo da história da região, marcado pela atuação de Frei Pacífico e seus sucessores na proteção dos indígenas.

João Castilho temia que, após seu falecimento, seus herdeiros vendessem a casa, que corria o risco de ser demolida para a construção de um prédio comercial. Ele defendia que a prefeitura deveria comprá-la e transformá-la em um museu, preservando sua memória e importância cultural para Itaporanga – SP.

A prefeitura municipal de Itaporanga deveria considerar a compra da casa de João Castilho para preservá-la como equipamento público cultural e turístico.

A casa é um patrimônio histórico e cultural importante para o município e região e, portanto, deverá ser preservada.

 *Valdemar de Oliveira Leite
Advogado Público Federal e Genealogista.
Diretor-Secretário do Museu da Paulistânia Professor João Castilho e
Conselheiro do Instituto Histórico Cultural e Genealógico do Sudoeste Paulista.

 

 

 

 

 

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