Duas variedades de batata, roxa e vermelho intenso, têm a polpa em duas cores: roxa e branco, vermelho e branco
Chegam ao mercado nacional as primeiras variedades de batata coloridas desenvolvidas no Brasil com casca e polpa coloridas. O Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, desenvolveu a IAC Turmalina com casca roxa e polpa em anéis mesclados de roxo e branco e a IAC Granada, com casca vermelho intenso e polpa em anéis mesclados de vermelho e branco. As duas novidades já estão sendo cultivadas por pequenos e médios produtores de batata, inclusive em sistema orgânico. O quilo tem sido vendido por até R$ 10,00, valor dez vezes maior que o da batata convencional. Serão lançadas as duas variedades coloridas e outras duas de batata convencional, a IAC Obelix e a IAC Axel, ambas com alta resistência fitossanitária e elevada produtividade, além de tubérculos grandes e com formato que agradam à indústria e ao consumidor. O lançamento foi no dia 15 de outubro, em Casa Branca, na Cooperativa dos Bataticultores de Vargem Grande do Sul, com a presença do secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Itamar Borges.
Com as duas variedades coloridas, o objetivo do IAC é atender a pequenos e médios produtores no sistema tradicional e também orgânico, que já têm apresentado um retorno muito positivo sobre esses novos materiais. Além do alto valor agregado, que multiplica por dez o preço do quilo, comparando-o ao da batata convencional, a alta procura tem deixado os interessados à espera de maior volume de produção. “Na cadeia de batata, não adianta o pesquisador achar que que a variedade é boa, o consumidor e, sobretudo, o produtor tem que gostar do material, por isso fazemos testes com os agricultores antes do lançamento”, comenta o pesquisador do IAC responsável pelos estudos, Thiago Factor.
O IAC pretende produzir plântulas e sementes genéticas pelo método da aeroponia, técnica desenvolvida por Factor no Brasil que objetiva melhorar a qualidade da batata semente. Para a produção de semente básica G1 e G2 iremos licenciar a produção junto às empresas, que já manifestaram interesse por essas novas variedades”, diz. Na América Latina, as batatas coloridas são consumidas em países como Peru, Colômbia e Chile. Os peruanos consomem com casca, que são apenas lavadas e não retiradas. No Brasil, não há esse hábito, mas podem ser consumidas com a casca, segundo Factor. “O mercado nacional está ávido por batatas coloridas”, afirma.
A IAC Turmalina, primeira cultivar nacional de pele roxa e anéis mesclados roxo e branco, atrai o consumidor pelo visual. É ideal para produzir chips coloridos, que certamente farão sucesso em pratos com apelo gastronômico e festas de aniversários infantis. Para o agricultor, os benefícios estão no pacote tecnológico, que compreende ciclo precoce de 80 a 90 dias. Por que isso é relevante? Para o produtor orgânico, quanto menos tempo a planta ficar em campo, melhor para evitar a incidência de doenças. Para o agricultor que mantém a batata em irrigação com pivô, quanto antes colher, mais rapidamente poderá instalar outra lavoura, como a de feijão, por exemplo.
A variedade IAC Granada tem a casca na cor vermelho intenso e a polpa com anéis mesclados em vermelho e branco. Assim como a IAC Turmalina, conquista consumidores “pelos olhos”, por sua aparência diferenciada que rende chips saborosos e com visual atraente. Para os agricultores, o ganho está na moderada resistência às duas principais doenças da cultura: requeima e alternaria.
A requeima mata a planta em apenas três dias. “É muito difícil controlá-la sem aplicações sucessivas de produtos”, diz o pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). A alternaria, típica de locais ou épocas de cultivo com temperaturas mais altas, provoca perdas de mais de 50% da produtividade, sobretudo se a incidência for precoce.
A IAC Obelix e IAC Axel, novas variedades de batata convencional, apresentam alta produtividade, em torno de 40 toneladas por hectare. Ideal para “batata palito”, a IAC Obelix tem alta resistência à requeima. “Não existe outra no Brasil com resistência tão alta à mais grave doença da cultura”, assegura Factor. Com essa resistência, ela tem sido cultivada no sistema orgânico. Outra vantagem está nos tubérculos grandes, compridos e alongados. Esse é o formato desejado pela indústria por proporcionar o melhor rendimento industrial. A IAC Obelix é “filha” da conhecida nos varejões, a batata Asterix. “A IAC Obelix apresentou resultados promissores em Minas Gerais, na maior fábrica de batata congelada do Brasil”, comenta o cientista. Minas é o principal estado bataticultor nacional. A batata é cultivada em praticamente todo o território nacional, exceto no Nordeste e região Amazônica, por conta do clima quente e úmido que favorece maior incidência de doenças.
A IAC Axel tem alta produtividade, em torno de 40 toneladas por hectare. Além disso, requer 30% menos insumos que os demais materiais convencionais. Esse desempenho resulta da alta resistência à alternaria. A IAC Axel apresenta formato que agrada ao consumidor, semelhante às tradicionais variedades padrão de mercado. “O brasileiro gosta desse formato: comprida, alongada e com casca lisa e brilhante”, comenta Factor. Para completar o perfil ideal, tem dupla aptidão, isto é, pode ser cozida e frita.
Aos consumidores fitness, a boa notícia é que a IAC Axel pode ser usada em salada ou assada. Nesta opção, não usa óleo e fica com casquinha por fora e cremosa por dentro. Quem não fica com vontade de provar?
A disponibilização das novas cultivares faz parte do programa de Entregas Tecnológicas do Governo do Estado de São Paulo. Até 2022, os seis Institutos e 11 Polos Regionais de pesquisas ligados à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria, disponibilizarão 150 tecnologias a todas as cadeias de produção do agro. Neste ano, a meta é disponibilizar 50 tecnologias na área de agricultura, pecuária, pesca e aquicultura, economia, processamento de alimentos e sanidade.
Como o IAC chegou às primeiras variedades coloridas de batata
O Instituto Agronômico iniciou a pesquisa, em parceria com a APTA Regional de Mococa, em 2009, quando importou 14 variedades de batatas coloridas do Centro Internacional de Batatas, no Peru, onde está o maior banco de germoplasma da espécie do mundo. A importação foi feita via Quarentenário do IAC.
A batata é originária dos Andes. O IAC importou as batatas coloridas, que foram cruzadas com materiais brasileiros. Os cientistas então selecionaram aqueles adaptados ao clima tropical do Brasil. “Por isso chamamos a IAC Turmalina e a IAC Granada de tesouro andino em terras paulistas”, comenta o pesquisador.
Novas variedades podem ser identificadas em qualquer lavoura
As quatro novas variedades já passaram pela tecnologia de finger print, capaz de identificar a “impressão digital” do material biológico, de modo a identificar sua identidade em qualquer lavoura onde estiver plantado. As análises de finger print foram feitas em laboratório do Centro de Cana do IAC, em Ribeirão Preto, interior paulista. Os quatro materiais estão em fase de registro junto ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Por que algumas batatas servem para fritar e outras para cozinhar?
O uso da batata depende da quantidade de matéria seca presente no tubérculo. A batata, em geral, é composta por 80% de água e 20% de matéria seca. Quanto maior o percentual de matéria seca, mais a batata se adequa à fritura. Quanto menor, mais se adequa ao cozimento. No caso das novas variedades IAC, somente a Axel tem dupla aptidão. As duas coloridas são adequadas para fazer chips e a Obelix é ideal para batata palito.
Assessoria de Comunicação da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP
Por Carla Gomes