Idade e Tecnologia

Pedro Israel Novaes de AlmeidaPor Pedro Israel Novaes de Almeida* – Não é fácil conviver com o avanço da ciência e tecnologia. Conhecemos o primeiro aparelho de TV aos 14 anos, como televizinhos. A imagem era própria de ambiente com neblina, com fundo sonoro de cachoeira. A transmissão já era a cores: preto, branco e cinza. A TV e rádio da época serviam como previsão de tempo, pois a imagem e som acusavam

relâmpagos ocorridos a 200 km de distância. Rádios portáteis eram fáceis de manejar, e pensávamos terem sido inventados por algum russo, pela importância do botão ON-OFF.
Trabalhos escolares eram produto de longas e intermináveis leituras em bibliotecas, com trechos copiados manualmente. O processo era cansativo, mas sempre aprendíamos além do relatado.
Professores enchiam o quadro-negro de conteúdos, e eram considerados vanguardistas os que traziam de casa cartolinas já escritas, em letras garrafais. A matemática era considerada difícil quando os números eram quilométricos e a divisão gerava vírgulas.

Eram considerados bons escritores os que geravam textos de difícil entendimento. Nem desconfiávamos que é fácil escrever difícil, e dificílimo escrever com simplicidade.
Quebrar um óculos, de lentes de vidro, abalava o orçamento de qualquer família, razão pela qual eram considerados jóias. Comer manga e tomar leite era mortal, e ser gordo era sinal de saúde e fartura.

Mecânicos remendavam ou substituiam peças originais de fábrica com gambiarras artesanais, e não eram raros os veículos que rodavam graças a um araminho no lugar certo. Cursos de datilografia eram passaporte para melhores salários, principalmente quando o aluno dedilhava sem enxergar o teclado.

A ciência progrediu e a indústria inundou o mercado com facilitadores, principalmente eletrônicos. Até que tentamos acompanhar o avanço tecnológico, mas o máximo que conseguimos foi perseguí-lo, sem jamais alcançá-lo.

É incrível a familiaridade com que as crianças de hoje manejam eletrônicos e outros artefatos. Para nós, o forno de microondas sempre será suspeito de contaminar alimentos. Por sabedoria, e não atraso tecnológico, desconfiamos das urnas eletrônicas, sequer utilizadas pelos povos mais desenvolvidos.

Temos tanto atraso tecnológico que sequer conseguiríamos produzir algum fogo, se amanhã acordássemos em ilha deserta. Voltaríamos à idade da pedra, e levaríamos centenas de anos para redescobrir a aplicação da ciência.
Na comunicação reside a maior descoberta humana. A internet e redes sociais integram pessoas e idéias, eliminando as cartas e idas ao portão alheio, para conversas.

A tecnologia torna mais eficiente o trabalho humano, e pode-se saber o que está sendo estudado e descoberto na Conchinchina, a um simples toque. É ingrediente das guerras econômicas e políticas, e arma preciosa nas colonizações culturais.

Fomos ultrapassados mas persistimos utilizando a ciência que pouco aprendemos, com o providencial apoio das novas gerações. Somos, contudo, imbatíveis no encontro de soluções, quando a falha em algum aparelhinho consegue parar o mundo todo, ao informar que o sistema caiu.

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*Pedro Israel Novaes de Almeida é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.

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