‘Mais carinho’ melhora desempenho de gado leiteiro, aponta estudo de Jaboticabal

Bezerro mama em balde com bicoDesmama gradual e bons tratos reduzem uso de medicamentos e mortalidade. O método de manejo que visa o bem-estar de bezerros leiteiros pode reduzir a mortalidade dos filhotes, garantir o ganho de peso, acelerar o início da puberdade das novilhas e torná-las mais dóceis. Esses são os resultados de uma pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Grupo Etco), da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), câmpus de Jaboticabal.

A proposta é de mais cuidado do tratador com o animal e o abandono da ‘desmama drástica’ por uma progressiva, para que o desapego ao leite seja menos estressante. Impactos desse manejo na produção de leite é o atual objeto de estudo da equipe.

O modelo tem origem no trabalho “Mais carinho no manejo de bezerros leiteiros”, realizado durante a iniciação científica da zootecnista Lívia Magalhães Silva, de 2005 a 2006. Ela contou com a orientação do professor Mateus Paranhos da Costa, da FCAV, e da médica veterinária Adriana Madureira, do Etco. Desde 2007, a aplicação do novo manejo vem sendo acompanhada periodicamente na Fazenda Germânia, na cidade de Taiaçú (SP).

Os estudiosos concluíram que a mortalidade caiu de 6,7% para 2,25% e o uso de antibióticos despencou 50% no universo pesquisado. Os filhotes tiveram menos desidratação (de 28,2% para 10,8%), e os casos de diarréia, que afetavam 76,9% dos animais, foram reduzidos para 13,3%. “Diante dos resultados e do baixo investimento, produtores paulistas e de outros estados têm nos procurado, com interesse em implementar esse manejo em suas fazendas”, relata Lívia. Em fevereiro de 2010, o Etco organizou um minicurso no câmpus de Jaboticabal que contou com grande adesão de pecuaristas e estudiosos.

O grupo também estuda alternativas para os filhotes machos na cadeia produtiva. Atualmente, eles são abatidos logo pós o nascimento ou vendidos para fábricas de embutidos. Alguns também são doados a centros de estudo em universidades.

Bom para pessoas

Na Fazenda Germânia, 24 bezerros separados da mãe logo após o nascimento foram divididos em dois grupos. O primeiro recebeu o tratamento usual na pecuária leiteira, que é o chamado Manejo de Casinha. Nele, o animal fica confinando individualmente em quadradinhos, sem a possibilidade de se exercitar. Os outros doze dormiam em um galpão, separados por baias maiores, e eram soltos no pasto durante o dia, para brincar e fazer exercício. O piso foi coberto por capim seco em vez de serragem, que, apesar de ser muito empregada, pode causar problemas respiratórios.

A dieta também mudou. Os recém-nascidos passaram a ingerir colostro durante cinco dias. Esse alimento é uma espécie de leite ralo, rico em anticorpos e vitaminas, secretado pela maioria dos mamíferos no início da amamentação pós-parto. No método tradicional, o filhote bebe esse líquido apenas no primeiro dia.

Nos dois casos, como é habitual na pecuária, o bezerro não se alimentou do leite da vaca, mas de um sucedâneo lácteo. Ele é feito de uma espécie de leite em pó e ajuda a baratear a criação. Para o produtor, um litro de leite custa cerca de cinquenta centavos, enquanto o preço do substituto chega à metade do valor.

A partir do 31º dia de vida, os pesquisadores aplicaram a desmama gradativa. A oferta de leite para o filhote, que era de cinco litros por dia, foi diminuindo, de quatro litros em duas mamadas até o 55º dia, três litros em apenas uma mamada entre o 55º e o 60º dias, dois litros do 61º ao 65º dias e apenas um litro até o 70º e último dia. O consumo total de leite foi o mesmo do método tradicional, não acarretando nenhum aumento de custo.

A hora da refeição passou a ser momento de interação com os tratadores, que foram orientados a escovar o pêlo dos bezerros durante a amamentação, imitando o comportamento da vaca. Também foram utilizados baldes com bicos para sucção do leite. “Além do foco no animal, a pesquisa procurou melhorar o ambiente para as pessoas, que passam a ter melhores condições de trabalho ao lidarem com bovinos mais sadios e dóceis”, destaca zootecnista. 
 
Por Cínthia Leone (Unesp-Jaboticabal)
  
 

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