O itaporanguense Antonio Levi Mendes, figura ilustre da cidade, registra aqui o encontro, quando da visita do Papa Bento XVI ao Brasil, de dois gigantes que atuaram a serviço da vida e da fé, os quais nos deixaram há pouco, porém nos deixaram um legado amplo em todos os sentidos, para ser seguido pelas próximas gerações. Cada um destes, dentro das suas respectivas atuações e dimensões: Dom Estevam para os Itaporanguenses e a Dra. Zilda Arns para o Brasil e para o mundo.
Antonio Levi Mendes*
Diz um sábio provérbio: “As verdadeiras saudades são aquelas que nos deixam algo de vital para nossa existência”.
No final daquela manhã de 11 de maio de 2007, logo após o término da Santa Missa campal dedicada à canonização de Frei Galvão – o primeiro santo nascido no Brasil – celebrada pelo Papa Bento XVI, houve um encontro sagrado entre um monge-missionário incansável e uma missionária leiga visionária. Dom Estevam Stork e Dona Zilda Arns tinham ascendência alemã, ele natural de Staig, um município da Alemanha, no estado de Baden-Württemberg, e ela filha de imigrantes alemães que se radicaram no Brasil, no interior do estado de Santa Catarina. Como todo encontro protagonizado por Dom Estevam aquele também foi revestido da mais absoluta liturgia da amizade, com seu aperto de mão forte – sua marca registrada, e com suas palavras sempre elogiosas e, muitas vezes, bem humoradas a respeito do interlocutor. Com certeza ele finalizou o encontro com o seu célebre pedido: “Reze pela minha conversão”.
Naquele dia, acompanhei, logo cedinho, os amigos Dom Estevam, Pe. Roberto e a Professora Jacira Rabelo, e o meu irmão David Mendes, até o Campo de Marte na região oeste da capital Paulista, onde aconteceu a celebração eucarística. Porém, não pude participar da missa, mas deixei a minha máquina fotográfica com o Pe. Roberto, que, juntamente com um amigo, registrou aquele grande evento de fé cristã.
Não foi diferente com relação à conversa mantida entre Dom Estevam e Dona Zilda. O encontro teve registro fotográfico, e ao ver as fotos pela primeira vez senti que aquele registro não era um registro qualquer, mas sim a prova material de um grande momento histórico para a igreja católica brasileira.
Dom Estevam partiu há quase um ano, aos 87 anos, em plena atividade pastoral, depois de concelebrar a missa conventual das seis e meia, em sua casa – a Abadia de Nossa Senhora da Santa Cruz de Itaporanga, causando intenso abalo emocional de tristezas e angústias em nossas mentes e corações.
Dona Zilda Arns, faleceu em plena missão humanitária no dia 12 de janeiro, aos 75 anos, durante o terremoto no Haiti. Um teto desabou sobre ela quando havia acabado de proferir uma palestra numa igreja em Porto Príncipe. Líder e dirigente da Pastoral da Criança, ela era uma das personalidades mais populares e respeitadas do país.
Tomei conhecimento da tragédia ocorrida no Haiti, durante minhas férias em Florianópolis/SC. Imediatamente, lembrei-me das fotos e da reação impactante que tive ao vê-las pela primeira vez, em razão da força espiritual das duas personalidades religiosas.
Fiquei muito ansioso para revê-las. O que fiz logo que cheguei de viagem na última terça-feira. Então, pensei em compartilhar com os irmãos itaporanguenses estas imagens maravilhosas. Comuniquei-me com o jornalista Adauto Nogueira que, gentilmente, abriu este espaço para que leitores do itaponews possam contemplar este encontro histórico, pois estas duas almas santas deixaram verdadeiras saudades entre nós.
Antonio Levi Mendes*
Procurador-Regional da União na Terceira Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul), de fevereiro/2003 a agosto/2006;Coordenador da Gerência Regional do Patrimônio da União no Estado de São Paulo, de agosto/2007 a agosto/2008.
Hoje exerce o cargo efetivo de Advogado da União da Advocacia-Geral da União na Consultoria Geral da União em São Paulo e é Diretor Administrativo da Associação Nacional dos Membros da Advocacia-Geral da União (ANAJUR- site www.anajur.org.br).