O pé de goiabas brancas e os “Renants”

*Rodrigo Carvalho – Fim de ano é sempre um momento nostálgico e, nos últimos dias, tenho me recordado com muita força de coisas que estavam adormecidas em minha memória. É curioso reviver esses sentimentos agora, depois de tantos anos, mas, certamente, essas lembranças devem fazer parte de um processo interno de transformação que tenho buscado com tanto esmero.

Anteontem, por exemplo, acordei sentindo um cheiro muito forte de goiaba, o que imediatamente me levou a uma saborosa e terna viagem no tempo. Me vi, ainda menino, no quintal da casa dos meus pais, ao lado do pé de goiabas brancas que lá existia. Além do cheiro de goiaba, também senti a textura dos galhos, das folhas e dos pequenos cascos que eu costumava arrancar do tronco. Também fui capaz de sentir o gosto das goiabas brancas e ainda a sensação de nojo quando, por infortúnio, eu encontrava algum ‘bichinho de goiaba’ depois de já ter dado algumas bocanhadas na fruta.

Foi uma lembrança realmente muito forte, como se eu estivesse vendo novamente essa árvore, que marcou muito a infância minha e das minhas irmãs. Eu, o caçula, provavelmente, devo ter sido o que menos subiu nela. Eu tinha medo e, mesmo encorajado por minhas três irmãs, por muitas vezes hesitei, preferindo obedecer a orientação da minha mãe.

A Renata ou “tata”, como ainda a chamamos, não saía de cima da árvore. Por inúmeras vezes, ouvi nossa mãe clamando para que ela descesse de lá. Então, me recordei também como essa minha irmã sempre foi aventureira e, por ter alguns anos de idade à nossa frente, assumia o papel de nossa líder.

Ela nos estimulava a ter uma mente criativa e nos inseria em um mundo de fantasias. Nesse mundo, os caramujos que surgiam em nosso quintal, normalmente ao pé da goiabeira e em tempos de chuva, se tornavam os ‘Renants’, soldados que acompanhavam a nossa líder em suas expedições aos arredores do Rio Bauru e da Chácara dos Madureira.

Hoje, a tata é uma executiva de sucesso, muito respeitada por sua equipe. Qualquer dia, vou invadir alguma reunião dela com seus consultores e contar essa história pra eles, destacando como eu fui um de seus primeiros seguidores. Inclusive, uma das conquistas que tenho grande orgulho é ter sido o vitorioso nos diversos desafios apresentados por ela para a sucessão da liderança da “Patrulha Salvadora” (como assim chamávamos nossa trupe de irmãos e amigos), quando ela já estava se tornando adolescente e caminhava por uma nova fase em sua vida.

É engraçado reconhecer essa menina aventureira, que relato aqui, na mulher que ela se tornou hoje. O espírito de liderança sempre esteve com ela, no entanto, ela já não sustenta mais a paixão por aventuras como ela tinha na época.

Neste Natal, gostaria que Papail Noel pudesse presentea-lá, devolvendo-lhe esse sentimento e resgatando essa sua paixão por novas descobertas, o que tanto me inspirou quando menino. Eu ficaria muito feliz vendo ela planejar e realizar novas expedições, dessa vez, não apenas por arredores de esgotos, mas pelo mundo afora.

E quem sabe ela encontre um novo pé de goiabas brancas e alguns “Renants” pelo caminho. Seria sensacional!

Autor: Rodrigo Carvalho, o ‘Digo’

*Artigo escrito por Rodrigo Carvalho | Rodrigo Carvalho é poeta, biógrafo e mentor de criatividade. É Mestre em Comunicação pela UNESP de Bauru. Pós-graduado em Gestão da Comunicação Mercadológica. Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo. Há 10 anos é proprietário e Diretor da Carvalho Assessoria – prestação de serviços em Assessoria de Comunicação e Marketing Pessoal para diferentes segmentos. Autor do livro ‘Um Grande Sonho – Editora Paulinas’ e coautor do livro ‘Estudos sobre Comunicação Empresarial e Organizacional’ pela Editora Opção. Mentor de Startups. Facilitador de palestras sobre diferentes temas da Comunicação, além de palestras motivacionais nas áreas de carreira, gestão e empreendedorismo.

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