Em nosso primeiro artigo falamos sobre a taxa de juros e um pouco da implicação dela em nosso dia-a-dia, além de listarmos mais algumas implicações que traríamos em artigos futuros. Desta forma hoje vamos tratar da relação dos juros com o câmbio.
A taxa de câmbio é a relação, ou o preço do dólar em relação à moeda local, no nosso caso o real. Os governos podem optar por uma taxa de câmbio fixa ou flutuante/variável. A taxa de câmbio fixa implica em praticamente uma dolarização da economia, e a taxa de câmbio flutuante como podemos deduzir varia conforme o mercado internacional.
No Brasil no início do Plano Real tínhamos o câmbio fixo, que buscava dar força para o real em termos internacionais, bem como trazer maior estabilidade aos preços, já que antes vivíamos com alta inflação. Hoje já temos uma taxa flutuante, embora em alguns momentos o governo possa intervir.
Mas então qual a relação do câmbio com a taxa de juros?
Vamos imaginar que temos algum dinheiro e terra em abundância (situação do investidor internacional – que pode colocar o dinheiro dele para render em qualquer lugar do mundo) e podemos optar entre a agricultura (o real) e a pecuária (o dólar). Para decidirmos onde vamos investir primeiramente precisamos saber qual investimento nos dará maior retorno. Como sabemos, os riscos são bem diferentes, pois na agricultura o clima tem maior probabilidade de afetar o resultado final do que na pecuária. Desta forma, caso o retorno final previsto seja o mesmo para os dois, a decisão de investimento racional seria a pecuária uma vez que estaríamos expostos a um menor risco, no entanto caso a agricultura tivesse um maior retorno ela poderia se tornar a opção.
Assim é a relação entre o câmbio e a taxa de juros, pois se tivéssemos a mesma taxa de juros para o dólar e o real, o investidor internacional optaria por investir no dólar, fazendo com que o valor do mesmo subisse. A opção seria o dólar porque a histórica instabilidade política do Brasil tem o mesmo efeito do clima na opção entre agricultura e pecuária. Por isso podemos entender as ultimas altas das taxas de juros do Banco Central, uma vez que o dólar teve um aumento significativo em 2021. O aumento na taxa de juros busca tornar mais atrativo investir no Brasil, tendo maior busca por real do que dólar e reduzindo assim a taxa de câmbio.
Com este entendimento também podemos compreender porque quase sempre uma notícia de forte alta do dólar vem acompanhada da notícia de que a bolsa de valores operou em baixa, ou seja, teve uma saída de investimentos nas empresas brasileiras.
Na ultima semana também vimos que o FED (Federal Reserve, Banco Central dos EUA) manteve a taxa básica americana, embora tenha sinalizado aumento da mesma em 2023 (isso é estabilidade…). Apenas para compararmos a taxa americana está em um intervalo de 0% a 0,25% ao ano e a nossa em 4,25% ao ano.
Apesar de aqui termos tratado do câmbio real/dólar, temos câmbio com todas as demais moedas do mundo, e o raciocínio é o mesmo. Mas o dólar e o euro (taxas de juros negativas) são hoje as moedas mais utilizadas no comércio internacional e que, portanto afetam qualquer economia.
Importante mencionar que a análise aqui é racional, mas entendemos claramente a paixão/relação estabelecida que possam ter com a agricultura (maquinário já investido, cheiro da terra, o som do trator/maquinário trabalhando…) ou pecuária (o nascimento de um bezerro, a lida na mangueira…), assim como paixão/crença/gratidão pelo país onde investimos o dinheiro.
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*Sidnei Almeida, natural de Itaporanga, é formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná com extensão em Gestão Econômica Financeira pela Fundação Dom Cabral, além de vasta experiência em grandes empresas na área de financeira e crédito e bancos como Banco do Brasil, HSBC, Banco Renault/Santander e atualmente BNP Paribas, líder europeu.