Sidnei Almeida: Como Pode uma Empresa Não Falir com Prejuízos?

O objetivo de uma empresa sempre será o lucro, pois o prejuízo significa perder dinheiro, mas nem sempre significa que uma empresa com prejuízo vai falir. Esta afirmação pode ser contraditória ao longo do tempo, mas podemos fazer uma relação com nossas finanças pessoais, o que talvez facilite o entendimento.

A idéia, e até mesmo a confusão entre lucro/prejuízo e caixa/fluxo de caixa pode levar uma empresa a dificuldades e algumas vezes à falência, desta forma é importante entender o conceito contábil e prático de cada um.

Contabilmente uma empresa tem o resultado, ou seja, lucro ou prejuízo após subtrair do total das vendas todos os custos necessários até a venda, onde estão desde os custos dos produtos vendidos até despesas como comissões, impostos e outras despesas da empresa. Notem que este conceito não considera se a venda foi à vista ou a prazo, bem como também não considera se os custos/despesas já foram pagos.
Por outro lado o caixa, ou então o fluxo de caixa considera a disponibilidade de dinheiro para pagar as despesas/custos, que pode ser negativa ou positiva, mas que não depende exclusivamente da empresa ter lucro ou prejuízo.

Ao trazer para a prática vamos imaginar que uma empresa vendeu um total de R$5.000,00, sendo que deste total os custos/despesas somam R$4.000,00, o que significa que para este total de venda a empresa teve um lucro de R$1.000,00. Por outro lado, o prazo para pagamento de todas as despesas é em média de 30 dias, mas que o prazo para recebimento das vendas é de 60 dias. Neste caso apesar de ter lucro, a empresa terá que bancar os custos por 30 dias. Caso isso se mantenha, e as vendas cresçam, a empresa terá que cada vez mais bancar um valor maior sem que ainda tenha recebido pelas vendas. Se em algum momento não tiver de onde tirar este valor irá começar a enfrentar problemas com falta de pagamento, possível negativação em SPC/SERASA, o que irá gerar falta de credibilidade e poderá levar a empresa à falência mesmo com lucro. Por outro lado, se os custos fossem de R$5.000,00 para um total de venda de R$4.000,00 (prejuízo), mas com prazos também invertidos, ou seja, recebemos em 30 dias e temos 60 para pagar isso irá gerar um caixa positivo e crescente possibilitando a sobrevivência da empresa ao longo do tempo, embora com prejuízo.

Claro que esta situação de se manter com prejuízo não é sustentável ao longo do tempo e pode ser identificada pelos fornecedores que cancelam ou reduzem o prazo de pagamento gerando a falência imediata, ou quase imediata da empresa.

Se compararmos com nossas finanças pessoais podemos entender que fazemos a gestão de nosso fluxo de caixa a partir do momento em que procuramos colocar a data de pagamento das mesmas conforme a data em que recebemos nossos salários, e que se em algum momento isso não é possível recorremos às nossas poupanças ou também teremos dificuldade, porém no Brasil ainda não é possível declarar falência de pessoa física.

Ao entendermos estes conceitos, também podemos entender o motivo pelo qual, algumas empresas a partir do momento em que têm alguma previsão de crise, o que pode significar prejuízo ou necessidade de dar mais prazos aos clientes (possível problema de fluxo de caixa), recorrem aos bancos e pedem empréstimos mesmo sem precisar, mas para reforçar caixa e poder se manter enquanto não houver o “casamento perfeito” do prazo dos custos/despesas com o prazo dado aos clientes. Outro fator que pode explicar o motivo pelo qual algumas empresas pedem crédito, mesmo sem ser necessário é o chamado “custo oportunidade”, que veremos em outro artigo.

Se você é empresário ou pretende ser, busque sempre o lucro, que é o torna a empresa sustentável ao longo do tempo, mas tome cuidado com o fluxo de caixa (muitas vezes o problema não está na empresa, mas na confusão do caixa da pessoa jurídica e a pessoa física dos sócios) para não gerar problema em um negócio lucrativo.

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Sidnei Almeida, natural de Itaporanga, formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná com extensão em Gestão Econômica Financeira pela Fundação Dom Cabral, além de vasta experiência em grandes empresas na área de financeira e crédito e bancos como Banco do Brasil, HSBC, Banco Renault/Santander e atualmente BNP Paribas, líder europeu.

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