Sidnei Almeida: Cooperativas e sua importância para a Economia

O cooperativismo no Brasil tem se expandido consideravelmente, mesmo durante a pandemia, que pode inclusive ter funcionado como impulsionadora para este crescimento dado os objetivos e resultados obtidos com o cooperativismo.

Antes de aprofundarmos nos números do cooperativismo no Brasil é importante resgatarmos um pouco de história, afinal para qualquer análise econômica é importante olhar para o passado.

A primeira cooperativa no mundo surgiu em 1844 na Inglaterra com um grupo de 28 operários, a maioria tecelões, que buscavam uma maneira econômica de atuar no mercado. Como individualmente não tinham força, o grupo resolveu se unir e criar uma válvula de escape frente ao capitalismo através da ajuda mútua. Desde então as cooperativas têm crescido no mundo, com presença em 150 países e sendo responsável por aproximadamente 10% dos empregos formais no mundo (280 milhões de empregados).

No Brasil, o primeiro movimento cooperativo surgiu em 1889 na cidade de Ouro Preto com Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto (cooperativa de Consumo). Hoje o Brasil ultrapassa a marca de 17 milhões de cooperados e emprega 455.095 empregos diretos (aumentou em 6% de 2019 para 2020, enquanto o Brasil sofre com desemprego durante a pandemia).

Em relação ao numero de cooperativas, temos hoje um total de 4.868 sendo que o estado de Minas Gerais lidera com 756 delas. Por outro lado os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina lideram o numero de cooperados com 3,3 milhões e 3,1 milhões de cooperados respectivamente.

A importância das cooperativas para a economia se dá pela combinação dos princípios que as regem e que são 7: 1-Adesão Voluntária e Livre; 2–Gestão Democrática; 3-Participação Econômica; 4-Autonomia e Independência; 5-Educação, Formação e Informação; 6-Itercooperação; 7-Interesse pela Comunidade. Ou seja, se fosse aplicado apenas o último principio já seria o suficiente para gerar reflexos na economia, mas a combinação de todos gera reflexos ainda maiores. A isso podemos adicionar o fato de que a cooperativa não visa o lucro para a entidade, mas distribui o mesmo entre os cooperados além de aplicar nas comunidades onde atuam.

Outro dado importante é a comparação da sobrevivência no mercado com relação às empresas, pois 47% das empresas brasileiras não sobrevivem após o quinto ano de atividade, por outro lado mais da metade das cooperativas brasileiras (2.442) possuem mais de 20 anos de atuação no mercado.

As cooperativas estão distribuídas em 7 ramos: 1-Crédito (maior número de cooperados no Brasil – aproximadamente 11 milhões); 2-Infraestrutura; 3-Agropecuário; 4-Saúde; 5-Consumo (como a 1ª do Brasil); 6-Trabalho, produção de bens e serviços; 7-Transporte. Nestes ramos podemos destacar a Unimed que é hoje a maior rede de assistência médica do país, sendo um sistema de 345 cooperativas com 116 mil médicos cooperados. Também vale destaca a Cooperativa Central Aurora Alimentos que mantém um programa socioeducacional e cultural chamado Fundação Aury Luiz Bodanese, que busca a sustentabilidade e cooperação. Por último como destaque na questão de sustentabilidade (este termo não está ligado apenas a questão ambiental) a primeira instituição financeira do país a aderir os painéis fotovoltaicos foi a cooperativa Sicoob.

Ao listarmos estes exemplos acima e considerarmos o que estas “marcas” representam no mercado, acredito já ser o suficiente para entendermos a importância das cooperativas para a economia.
Adicionalmente podemos olhar para os estados do sul do Brasil que possui grande número de cooperados e notarmos que nestes estados prevalece a distribuição de terras em pequenas propriedades (sim também há grandes propriedades nestes estados) uma vez que boa parte dos cooperados são de cooperativas agrícolas.

Outro fator que também se destaca é a crescente das cooperativas de crédito (Sicood e Sicred – com origem nos estados do sul) onde há a possibilidade não somente de termos produtos mais vantajosos (créditos mais baratos e aplicações mais rentáveis), como também mais personalizados, ou seja atendem mais a necessidade dos cooperados e suas comunidades.

Por último, ao abordar o tema de cooperativas, não tenho como deixar de recordar da saudosa e importante Cooperativa Agrícola de Cotia que tivemos em Itaporanga. A cooperativa Agrícola de Cotia foi fundada em 1927 por imigrantes japoneses, que por não ter como transportar as batatas e serem vitimas constantes dos comerciantes, se organizaram em cooperativa para construção de um armazém.

Apesar do inicio ter se dado com a batata, posteriormente passou a incentivar também a produção de hortaliças, saiu do eixo de Cotia, se expandiu pelo interior do estado de São Paulo e chegou a abrir fronteiras no cerrado mineiro e goiano, e encerrou as atividades em 1994.

Em Itaporanga a CAC esteve presente desde 1971 até o encerramento da matriz em 1994, tendo também um supermercado (a Casa da Abelha – abelhas são consideradas o símbolo do trabalho e da cooperação) formou alguns agricultores e empresários e fez parte do período em que Itaporanga foi conhecida como “celeiro paulista”. Vale também ressaltar a importância das cooperativas de laticínios em nossa região, que apesar dos baixos preços pagos pelo litro de leite trazem o beneficio de remédios, complementos alimentares e assistência técnica com baixo custo para os produtores.

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Sidnei Almeida, natural de Itaporanga, formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná com extensão em Gestão Econômica Financeira pela Fundação Dom Cabral, além de vasta experiência em grandes empresas na área de financeira e crédito e bancos como Banco do Brasil, HSBC, Banco Renault/Santander e atualmente BNP Paribas, líder europeu.

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