Primeiramente gostaria de registrar a nostalgia que falar sobre emprego me traz, uma vez que minha monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) foi uma análise da evolução do mercado de trabalho bancário na década de 90, com introdução dos caixas automáticos(já poderia ser atualizado para a década de 2010 a 2020 por exemplo com análise dos apps e internet banking).
Voltando ao tema, sei que o título pode parecer contraditório, mas acredito ser importante analisarmos também nesta perspectiva, pois toda crise gera oportunidades.
Analisar apenas dados neste caso não é de todo conclusivo no caso do Brasil, pois já tínhamos uma crise de emprego (ainda que contraditória como veremos a seguir), portanto também vamos tratar das mudanças nas relações de trabalho, que vão além dos dados de emprego/desemprego.
Os dados divergem entre IBGE e CAGED e, portanto é importante entendermos como cada um é calculado. O CAGED (Cadastro Geral de Empregado e Desempregados) considera os registros de carteira assinada, enquanto que o IBGE (Instituto Brasileiro de Economia e Estatística) utiliza a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) considera desempregado quem não tem trabalho, mas procurou trabalho nos últimos 30 dias. Podemos dizer que os dois métodos são falhos, pois o CAGED é restrito aos registros em, e o IBGE pelo fato da amostra não abranger todas as regiões e classes sociais (alguém já foi constatado pelo IBGE para alguma pesquisa do gênero?). Apesar dos dois serem importantes, acredito que o melhor em uma análise o IBGE.
O IBGE mostra aumento da taxa de desemprego em 2020 e 2021 (1º trimestre), sendo 11,9% em 2019, 13,5% em 2020 e 14,7% no primeiro trimestre de 2021, portanto podemos dizer que do começo da pandemia até agora tivemos um aumento de aproximadamente 3% do desemprego, o que equivale a aproximadamente 3 milhões de trabalhadores . Por outro lado o CAGED apresenta aumento do número de empregados em 1,68% em 2019, 0,20% em 2020 e 0,26% no primeiro trimestre de 2021. Entendendo a divergência dos métodos podemos concluir que embora tenha aumentado o numero de empregados com carteira assinada (CAGED), também aumentou, em proporção maior, o numero de pessoas desempregadas em busca de um emprego.
Mas o efeito no emprego não para por ai, pois além das perdas ou ganhos no número de empregados o Covid 19 também acelerou algumas mudanças nas relações de trabalho, e é exatamente nestas mudanças que podemos encontrar oportunidades. Como sabemos muitas pessoas passaram a trabalhar remotamente e no “retorno à normalidade” possivelmente já se valorize o tempo perdido no transporte, a possibilidade do almoço com a família entre outros benefícios possíveis. Desta forma podemos priorizar o trabalho a distancia para uma melhor qualidade de vida. Este é apenas um exemplo, pois também passamos a comprar mais por internet, sendo necessário mais, ou diferente perfil de pessoas em algumas empresas. Por outro lado empresas deixam de ter custos com aluguéis de imóveis, uma vez que um percentual de empregados passa a trabalhar a partir de casa. Isso também ocorre por uma empresa que pode fechar uma porta, mas manter o mesmo nível de vendas online.
É claro que há uma necessidade de revisão das leis trabalhistas para esta nova relação de trabalho, o que também é uma oportunidade. Importante que tal revisão proteja direitos trabalhistas, sem deixar de incentivar as empresas em manter ou aumentar seus quadros de trabalhadores na retomada da economia. Alguns sindicatos já trataram destas mudanças na ultima convenção coletiva de trabalho.
No que diz respeito à nossa região, podemos afirmar que a mesma foi menos afetada no nível em emprego, pela natureza da atividade agropecuária que se manteve sempre ativa, bem como o serviço público, onde alguns podem trabalhar a partir de casa, mas muitos têm a necessidade de trabalho presencial. Ainda assim o interior pode ser beneficiado com as mudanças das relações de trabalho, pois uma vez que passamos a trabalhar remotamente podemos ter um emprego em São Paulo, mas trabalhar remotamente 8 horas por dia em alguma cidade de nossa região. Uma vez que isso acontece temos o efeito de maior poder de compra, pois mesmo que pague um aluguel não será o mesmo que em uma capital (sem falar das famílias que mantêm duas residências – uma pra trabalho e outra para viver), além do fato de que aumenta a possibilidade de todo o salário ser gasto em nossa região, aumentando ainda mais o efeito na economia local. Isso é a chamada interiorização dos trabalhos administrativos, ainda que fatores como internet de qualidade e qualificação profissional sejam necessários.
Toda crise gera oportunidades, basta encontrarmos a nossa e acreditarmos nela e nos prepararmos para o momento da retomada (que parece próximo).
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Sidnei Almeida, natural de Itaporanga, formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná com extensão em Gestão Econômica Financeira pela Fundação Dom Cabral, além de vasta experiência em grandes empresas na área de financeira e crédito e bancos como Banco do Brasil, HSBC, Banco Renault/Santander e atualmente BNP Paribas, líder europeu.