Sidnei Almeida: Financiar ou Alugar um Imóvel – A Decisão Financeira

Este é um tema para o qual qualquer um de nós tem uma resposta pronta, porém quando somos questionados a grande maioria não apresenta uma resposta racional por completo (me incluo nesta maioria). A grande verdade é que temos convicções e cultura que formamos durante nossa vida, e que ao final impactam nesta decisão, e também a análise a ser feita sobre a melhor opção.

Como estou no grupo de resposta sem um racional completo, posso dividir que sempre respondo que vale mais a pena comprar um imóvel financiado do que pagar aluguel, pois o pagamento da parcela mesmo que por um valor maior é para pagar um bem próprio, ou seja, passo de alguma forma a ser proprietário, o que não é o caso do aluguel.

Porém o racional financeiro pode não fazer sentido, ou ainda não fazer sentido em alguns casos. Para isso vale à pena analisarmos desde planejamento que temos para nossas vidas como as taxas de juros e responsabilidades como proprietários ou inquilino.

Quando menciono planejamento de vida isso inclui tanto a profissional quanto a familiar que influenciam a localização e tamanho do imóvel que compramos ou alugamos.

Quando estamos em começo de carreira, dependendo das oportunidades profissionais temos maior possibilidade de mudança de cidade o que pode tornar o aluguel mais interessante. Também há algumas profissões que por natureza sempre precisam mudar de cidade, mas que em alguns casos a compra de um imóvel usando FGTS (podemos usar a cada 2 anos para aquisição ou quitação de imóvel) pode ser também interessante. Do ponto de vista profissional também é importante considerar a estabilidade no trabalho, pois a perda de um emprego ou redução de renda não permite negociar o financiamento, mas o aluguel pode ser ajustado tanto com relação qualidade, localização e tamanho do imóvel.

Por outro lado o planejamento familiar também é importante na decisão, uma vez que a quantidade de quartos pode tornar desfavorável a compra de um imóvel se pretendemos aumentar a família em curto prazo. Os dois casos (mudança profissional ou aumento da família) podem gerar necessidade de venda do imóvel em curto prazo de maneira rápida, o que por sua vez pode representar desvalorização. Por outro lado a compra com utilização de saldo do FGTS pode valer a pena, pois o saldo que fica no FGTS tem uma das menores correções do mercado e qualquer valorização do imóvel tende a ser maior, compensando assim uma possível perda por venda imediata.

Quando analisamos a taxas de juros, devemos comparar o valor pago em juros com o valor do aluguel. Por regra (pode variar um pouco conforme cada mercado), o valor do aluguel corresponde a 0,5% do valor do imóvel, ou seja, por ano o proprietário tem 6% (12 meses vezes 0,5%) do valor do imóvel.
Neste caso quando temos a opção de um financiamento em que a taxa de juros é inferior a 6% ao ano, claramente passa a ser mais atraente o financiamento do que o aluguel, porém se a taxa de juros for superior aos 6% outros fatores precisam ser considerados. Como exemplo é necessário considerar a possibilidade de valorização do imóvel, pois a valorização pode compensar a diferença entre parcela maior e o aluguel. Também é importante considerar as responsabilidades como proprietários e como inquilino, pois embora o inquilino tenha que entregar um imóvel conforme recebeu, vale lembrar que desgastes não visíveis podem ser mais caros do que os visíveis ao longo do tempo, como por exemplo encanamento, instalações elétricas e outros desgastes estruturais do imóvel.

Fazendo uma análise prática podemos dizer que hoje com a taxa de juros do Banco Central a 6,25% ao ano é mais vantajoso alugar do que financiar um imóvel. A verdade é que mesmo com taxas do Banco Central baixas dificilmente temos taxa de financiamento de imóvel abaixo de 6%, portanto financeiramente é mais interessante alugar que financiar, mas isso se esbarra nossa cultura e principalmente na disciplina financeira.

Três ganhadores do prêmio Nobel de Economia (Daniel Kahneman, Robert Shiller e Richard Thaler) afirmam que a grande maioria das pessoas não tem disciplina financeira e, ao tomar decisões de consumo, não agem de maneira racional e tendem a consumir motivados pelas emoções.

Com base nesta afirmação também podemos concluir que o compromisso com a parcela do financiamento força a disciplina e possibilita aquisição de um bem. Provavelmente se considerarmos alugar em vez de comprar, passaremos a vida toda pagando aluguel, nunca seremos proprietários e vamos ter pouco dinheiro no bolso ou no banco.

Importante que a decisão seja tomada conforme o perfil de cada indivíduo, mas considerando os fatores apresentados neste artigo.

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Sidnei Almeida, natural de Itaporanga, formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná com extensão em Gestão Econômica Financeira pela Fundação Dom Cabral, além de vasta experiência em grandes empresas na área de financeira e crédito e bancos como Banco do Brasil, HSBC, Banco Renault/Santander e atualmente BNP Paribas, líder europeu.

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