Sidnei Almeida: O que esperar da economia para 2022?

Após a pausa para o período de festas, descanso e reflexão, estamos de volta com a coluna sobre economia. Como finalizamos fazendo um balanço sobre 2021, nada melhor do retomarmos a coluna falando sobre as perspectivas econômicas para 2022.

No cenário mundial a perspectiva é mesmo de recuperação da economia em geral, com crescimento do PIB das grandes economias mundiais. Esta perspectiva se dá não pelo fato da pandemia ter acabado, mas sim por dois fatores, sendo que um deles considero positivo e outro negativo. O fator positivo que permite a retomada e crescimento da economia é que durante o ano de 2021 houve vacinação massiva da população mundial, além do setor de saúde se familiarizar mais com os diversos efeitos do vírus causador do Covid-19, melhorando assim o tratamento dos infectados com menor pressão sobre nos hospitais e também uma diminuição das mortes, ainda que todo o cuidado continue sendo necessário.

Como fator negativo, temos a pressão sobre as finanças públicas, uma vez que os fechamentos de comércio, empresas e até mesmo de países (aeroportos, portos, proibição de viagens…) reduziu a atividade econômica e por consequência a arrecadação de impostos, sendo que por outro lado os governos foram obrigados a investir em vacinas, estruturas e programas de garantia de renda. Com este cenário as finanças do governo se tornaram insustentáveis, sendo necessárias ações para retomada da economia e volta de arrecadação com diminuição da necessidade de programas de garantia de renda por exemplo.

Apesar, e também por causa da retomada, assim como ocorreu nos últimos dois anos em 2022 também esperamos inflação a nível mundial, ou seja, não é e não será uma exclusividade do Brasil ou países em desenvolvimento. A inflação neste cenário é causada pelo consumo de bens duráveis, que durante a pandemia gerou a chamada demanda reprimida e a retomada passa a ser uma oportunidade de compra dos consumidores, bem como de ganho para os fabricantes com elevação dos preços. Adicionalmente temos a inflação pelos bens de necessidade básica, uma vez que pela falta de alguns produtos, os produtos utilizados como substitutos (macarrão, batata, arroz são carboidratos, portanto podem se substituir, assim como carne bovina, suína, frango, peixe como proteínas) tiveram e seguirão tendo com aumento de preços, pois como dito são produtos de necessidade básica, portanto a qualquer (ou quase qualquer) preço ele acaba por ser vendido/comprado.

Outro índice importante para economia mundial é a taxa de juros praticada por cada economia. Conforme mencionado em um de nossos artigos, a taxa de juros serve para determinar a remuneração do governo para os detentores de títulos públicos, portanto em um cenário em que temos uma pressão sobre as finanças públicas (outro dia li um artigo, cuja manchete era “O Rombo das Finanças Públicas – O Legado da Pandemia”), os governos têm cada vez mais necessidade de se financiar, e a forma de tornar os títulos do governo atrativo é aumentando a taxa de juros. Apenas para exemplificar, a taxa de juros da zona do Euro que é o Euribor que há anos se mantém negativa já apresenta uma tendência de virada, ou seja, deve passar em 2022 (ou talvez em 2023) para positiva.

Para o Brasil podemos apanhar estas perspectivas e adicionar alguns ingredientes, sendo o mais apimentado a eleição presidencial de 2022. Ou seja, se em um cenário de análise técnica com aumento da inflação, aumento das taxas de juros o Brasil já tende a ter dificuldade, ao acrescentarmos a eleição pode quebrar a banca de qualquer economista. Não por acaso a própria ONU projeta que o Brasil terá o terceiro pior crescimento real da economia em termos mundiais ganhando apenas de Guiné Equatorial e Mianmar. Apesar de discordar desta projeção comparativa com outros países, ao que tudo indica mais um ano o Brasil terá crescimento quase nulo, o que só não ocorrerá pelo agronegócio (bom sinal para nossa região), embora a industria também comece a se recuperar.

Se podemos fazer alguma projeção sobre os índices mencionados acima, acrescentando aqui a taxa de câmbio diria que o PIB brasileiro deve crescer entre 1% e 1,3%, devemos encerrar 2022 com uma inflação próxima dos 6%, taxa de juros deve passar dos 12%, sendo que a taxa de câmbio deve fechar estável com possibilidade de queda.

PS – sei que minha banca pode quebrar, mas economista que não se arrisca não acerta…

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Sidnei Almeida, natural de Itaporanga, formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná com extensão em Gestão Econômica Financeira pela Fundação Dom Cabral, além de vasta experiência em grandes empresas na área de financeira e crédito e bancos como Banco do Brasil, HSBC, Banco Renault/Santander e atualmente BNP Paribas, líder europeu.

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