Taquarituba vai dar a volta por cima, diz prefeito

a_Parque Lourenço Custódio_490x368a_Prefeito Miderson2_490x368DSC08563_490x368Augusto Nishida Filho_490x368

Contém galeria com 74 imagens – Em entrevista concedida ao ItapoNews no final da tarde desta sexta-feira(27) em seu gabinete, o médico e prefeito Miderson Zanello Milleo falou das dificuldades; de como tem sido os seus dias desde domingo; o que tem feito para auxiliar na recuperação; o quanto de tempo e os  recursos necessários e as medidas tomadas para minimizar os problemas causados pelo tornado: sobre a solidariedade do povo e um provisionamento de alimentos para vários meses previstos para as vítimas e desempregados. E veja também: uma mulher que estava na rodoviária conta como foram os segundos de terror; o empresário local de estrutura metálica que voluntariamente está socorrendo as empresas e que a energia elétrica está próxima de 100% de recuperação na cidade.

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Itaponews – Como tem sido a vida do prefeito nos últimos dias?

Miderson – De bastante dificuldades. Dormir a gente não dorme bem desde o primeiro dia, o que é normal pelo estresse e pela tensão pelo fato de carregarmos um fardo mais pesado, devido a confiança que a população deposita para que resolvamos tudo. Mas estamos resolvendo tudo o que está ao nosso alcance.
O estrago foi muito grande, e temos muitos seguimentos para atender: o dos munícipes, espaços públicos e os seguimentos comercial e empresarial, que foram os mais afetados. Sabemos que temos de auxiliar a todos na medida do possível e por isso que decretamos calamidade pública, que já foi homologada nos níveis municipal, estadual e federal. O governador já esteve aqui e já  houve algumas liberações de ações como, os cursos profissionalizantes remunerados através da ETEC; a frente de trabalho pela Secretaria de Trabalho; encaminhou-nos a agência Desenvolve SP para liberação de recursos, e estamos conversando com a Caixa Federal, Banco do Brasil e BNDS.
Estamos fazendo tudo o que podemos fazer perante essa tragédia, dentro da lei, e sabemos que a única coisa que não podemos fazer é recuperar as duas vidas que foram perdidas. Temos certeza que Taquarituba vai dar a volta por cima.

IN – Quanto tempo o Sr. calcula para essa recuperação?

Miderson – Anos né? É um evento muito grande, com reflexos na construção. Anos! O município só precisa mais rápido. A parte industrial, mesmo que tivéssemos todo recurso, o aporte financeiro agora, a gente sabe que vai demorar mais tempo.

IN – Quanto de recursos financeiros será preciso, tem ideia?

Miderson – Eu acredito que se for ver a sua totalidade, são coisa de R$ 70 a R$ 100 milhões.

IN – Alguns empresários já vinham operando com dificuldades financeiras e vão ter dificuldades em oferecer garantias, mesmo com o aval do Fundo Garantidor do Estado,  para obtenção dos empréstimos. Como se lidará com isso?

Miderson – Bem, durante a semana dois técnicos da Desenvolve SP estiveram aqui e vão estar na semana que para conversar com cada empresário que necessitar de recursos. Isso vai depender da parte técnica do órgão.

IN – Nesse período o Sr. ouviu ou viu alguma manifestação de descontentamento?

Miderson – Não. Que a gente tem conhecimento, não. Desde o primeiro momento sabemos que o poder público não tem condições de resolver tudo e por isso não criamos nenhuma expectativa. Talvez, algumas pessoas ou alguns empresários, devido a dificuldade – e a gente entende isso – possam ter pensado que o poder público pode fazer mais do que a lei permite. Mas existe legislação prevendo eventos dessa magnitude e tudo que pode ser feito está dentro do processo, dentro da legislação.

IN – Em solidariedade, muitos municípios e muitos veículos de comunicação estão fazendo campanhas para arrecadação de alimentos para as cerca de 500 famílias desalojadas. Isso está sendo suficiente?

Miderson – Em matéria de roupas e alimentação está sendo suficiente e já estamos provisionando para alguns meses para atender também os desempregados.

IN – Só no distrito industrial foi gerado cerca de 500 desempregos. Com relação à Frente de Trabalho, ela será específica para esses?

Miderson – Não. Ela é aberta para todos, mas priorizando não só esses trabalhadores do parque industrial como também da área comercial.

IN – Impactos: como houve uma interrupção na produção, haverá uma consequente queda de arrecadação e diminuição nos repasses para o município. Como o Sr. vai lidar com isso?

Miderson – Justo! Como as empresas vão estar endividadas, nós temos a obrigação de ajuda-las a retornar. Estamos enviando uma lei para isentá-las dos impostos municipais nesse período de recuperação. Com isso, o município arrecadará menos, com reflexos nos setores de saúde, educação e outros serviços que dependem da arrecadação de impostos.

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Rodoviária danificando: Josélia, o marido e o filhinho estavam dentro

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Depois de fotografar a rodoviária, por volta das 16h desta sexta-feira(28), o ItapoNews notou uma mulher varrendo uma parte da calçada em frente a estação danificada. E foi conversar com ela para saber se estava lá naquela triste tarde de domingo.  Josélia Correia dos Santos, 34 anos, estava lá sim.

Ela, o marido e  o filhinho, um menino. Eles são donos da lanchonete e aguardavam a chegada do ônibus que vinha de Itaí mas que acabou não chegando, porque a uma quadra, no trevo ele foi colhido pelo tornado e jogado longe, matando o motorista e ferindo os oito passageiros. E ela contou:

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“Foi em segundos e tudo muito rápido. Foi o prazo de fechar uma porta, orar, e ao abrir, a tragédia: Estávamos sentados nas cadeiras em frente da lanchonete. Tudo começou com um ventinho, que foi rapidamente ficando diferente e foi aumentando. Pedi para meu marido fechar as portas. Mas aí já estavam difíceis de abaixar e ele correndo conseguiu abaixar apenas.

Começamos a orar. Nosso carro estava aqui na frente e água começou a escorrer pela lâmpada. Pensamos que nosso carro tivesse voado junto com o vento pelo barulho que fazia, pois tudo estava se contorcendo aqui dentro. Daí ouvimos uma pancada forte e começaram a cair pedaços de tijolos(uma viga de concreto tinha caído). Meu marido abriu a porta e vieram umas oito pessoas que estavam aqui e ao verem tudo quebrando e as ferragens se retorcendo procuraram abrigo no banheiro. Tinha pouca gente. Eram acho que uns oito jovens e vieram assustados, desesperados e chorando muito. Não foi nem um minuto. Foram segundos. O tempo para falarmos três vezes, em nome do nosso senhor Jesus Cristo”, contou Josélia, que estava varrendo por falta de movimento na lanchonete, sem freguesia.
Por enquanto nada elétrico foi religado na rodoviária, cujos recursos, como se trata de um bem público municipal, deverá vir do governo do Estado através da Defesa Civil.

Estação Rodoviária não há e enquanto isso, o improvisado ponto de ônibus está em um terreno numa rua central da cidade, próximo do Banco do Brasil.

Empresário Nishida, primeiro trata de auxiliar os vizinhos

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Augusto Nishida Filho é empresário do ramo metalúrgico de estruturas metálicas estabelecido no distrito industrial arrazado, mas, segundo ele, o dano na sua empresa foi pequeno, com cerca de perda em torno de 30% da cobertura do seu galpão. Ele conta que já na segunda feira ele e seus 18 funcionários trataram de se reorganizarem para auxiliar seus parceiros e vizinhos no distrito industrial.

Tem caminhão munk e o seu pessoal é especializado em produzir, montar, desmontar e consertar estruturas metálicas. “Quinta e hoje(sexta-feira) já conseguimos dar assistência para eles(empresas) começarem a se realinhar. Nem custo estamos colocando. Estamos com muitos pedidos e só hoje é que pudemos elaborar alguns orçamentos de alguns pedidos. Estávamos sem energia elétrica mas ela já foi restabelecida. Mas por enquanto só estamos socorrendo mesmo os vizinhos. E, graças a Deus a minha empresa foi pouco atingida, em relação às outras. Sobrou muito. Já me reorganizei para trabalhar. Só tenho que agradecer a Deus mesmo. Só tenho que agradecer, não tivemos mortes aqui. Apesar do sinistro, só tenho que agradecer mesmo”, finaliza.

Distrito industrial devastado e com uma grande bomba que, milagrosamente não foi detonada

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O cenário de destruição é indescritível. Cremos que nem mesmo um bombardeio intenso com artilharia pesada de guerra produzida pelo homem jamais conseguiria gerar aquela destruição. Percorrendo no final da tarde desta sexta-feira o distrito onde estão hoje estão somente grossas ferragens retorcidas como se fossem algo fácil de dobrar como um plástico ou borracha, postes de concreto arrancados ou quebrados, restos das estruturas das 38 empresas instaladas lá, o ItapoNews notou um depósito de combustíveis – tudo dentro das normas de proteção e segurança – com vários tanques de diesel, gasolina, álcool e gás que, apesar de tudo ficaram intactos.

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Refletindo sobre isso e levando em consideração que outras estruturas ao lado, ali junto, muito mais fortes e reforçadas não resistiram, conclui-se que algo misterioso interveio e impediu que aquilo tudo fosse explodido, quem sabe por uma pequena das milhares de faíscas geradas pelos atritos quando as ferragens vizinhas e a rede elétrica vieram ao chão. Porém, acreditaremos se a ciência, a física nos provar o porquê daquilo ter sido preservado.

Cerâmicas de outra região estão doando telhas e tijolos

a_Maria Lídia Gomes de Carvalho_490x368De acordo com Maria Lídia Gomes de Carvalho, da coordenadoria Social, os trabalhos para reparos e reconstrução de casas continuam, mas está faltando principalmente muita telha que já se esgotaram nas lojas locais de material de construção, e ela reforça para que os que puderem doar, doem telhas.

Segundo ela, cerâmicas da região de Conchas e Pereiras estão colaborando muito com Taquarituba, enviando telhas gratuitamente. Por insistência da reportagem, ela concordou em revelar os nomes desses estabelecimentos benfeitores distantes, mas muito próximos na solidariedade. São as seguintes cerâmicas: Sartori, Ferreira, Rafael, Rondon, Cermacol, Conquista e Lopes.

Energia elétrica restaurada quase 100%

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DSC08573_490x368Segundo um engenheiro da concessionária Santa Cruz/CPFL, 30 equipes com 140 homens passaram a semana trabalhando até com várias horas extras na restauração. “Hoje, agora neste final de tarde estamos muito próximos de completarmos os 100%. Resta tão pouco que estamos contando nos dedos as religações que estão faltando. São aquelas religações de moradias simples, as quais os proprietários tiveram dificuldades para obter os postinhos que abrigam o padrão. Eles nos telefonam: Olha, já instalei o postinho, podem vir ligar. Fica na rua tal, número tal e etc.”, contou o engenheiro que preferiu não se identificar. 

O ItapoNews foi um dos primeiros veículos de comunicação de fora da cidade a noticiar essa tragédia: 50 minutos depois estava lá fazendo as imagens dos estragos e acompanhando o desespero das pessoas e toda a movimentação, principalmente a de socorro na Santa Casa local.  Reveja aqui

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