Genealogista Renata Mendes expõe genealogia do educador itaporanguense João Castilho

Por Antonio Levi Mendes – Desde julho do ano passado, na exposição “MEMÓRIAS – Vida e Obra do Professor e Historiador João Batista de Magalhães Castilho”, na rua Dr. Felipe Vita, nº 1243, antiga rua do Comércio, no Centro Histórico e Comercial da cidade de Itaporanga – SP, antiga “Villa de São João Baptista do Rio Verde”, o visitante ao subir os oito degraus da pequena escada do casarão em estilo colonial simples e olhar para a sua esquerda verá a árvore genealógica do saudoso professor, filho de Oscarlino de Figueiredo Castilho e de Maria Cristina de Magalhães Castilho.

A genealogista Renata Mendes, autora da árvore, concedeu esta entrevista ao ItapoNews para falar do seu mister e como ela se envolveu com o apaixonante trabalho genealógico.

ItapoNews: Qual seu nome completo, onde você nasceu e quais seus vínculos com Itaporanga-SP e o Sudoeste Paulista?

Sou Renata Carolina Mendes Espinosa, nasci em Sorocaba/SP. Meu pai é Carlos Mendes, nascido em Itaporanga/SP, filho de Juca Mendes e Esther Lara Mendes, ambos também de Itaporanga/SP e minha mãe é Cleide Costa Mendes, nascida em Itaí/SP, filha de Sebastião Pinto da Fonseca, de Avaré/SP e de Íria Costa da Fonseca, de Tejupá/SP.

Meus pais casaram-se em Itaporanga/SP, no ano de 1973.
Avós Paternos, em Itaporanga/SP, em 1941.
Avós Maternos, Itaí/SP, 1956.
Bisavós Paternos, Itaporanga/SP, 1909 e 1921.
Bisavós Maternos, Itaí/SP, 1913 e Fartura/SP, 1921.
Trisavós Maternos, Itaporanga, 1859 e 1875.

ItapoNews: De que maneira você entrou em contato com a Genealogia e quais as descobertas em relação aos seus antepassados?

Tenho bastante história pra contar porque depois que o “bichinho” da Genealogia nos pica, nunca mais nos curamos!

Sempre fui muito curiosa e procurei guardar dados dos familiares. Quando visitava o cemitério de Itaporanga ou o cemitério das Taquaras (Distrito das Águas Virtuosas, em Tejupá/SP), ficava reparando nos nomes, nas datas e fotos. Quando encontrava um parente que sabia a história da família tomava nota e guardava.

Em 2002, ganhei de um primo de Piraju uma pesquisa que ele tinha feito por anos da genealogia dos Pinto da Fonseca, que ia até meu tataravô Chico Pinto, com foto e tudo. Sempre lia e relia o que ele havia escrito. Tempos depois, observei que sendo ele, o Chico Pinto, filho de Esperança Pinto da Fonseca e Ignácio Francisco Vieira Maciel e que ambos estavam descritos na Genealogia Paulistana, uma obra histórico-genealógica escrita por Luís Gonzaga da Silva Leme, ali estava a continuação da minha árvore genealógica.

Um dos meus ascendentes, na verdade meu 14º avô, foi um judeu sefardita, chamado Antonio Rodrigues, conhecido depois de sua morte por Antônio Rodrigues de Alvarenga. Teria nascido por volta de 1550, em Portugal, provavelmente na cidade de Lamego, a julgar pelos depoimentos de seus descendentes. Teria vindo para o Brasil cerca de 1569, casando-se cerca de 1575 certamente na vila de São Vicente, com Ana Ribeiro, nascida cerca de 1559 na vila de São Vicente, ou ali criada, filha de Estevão Ribeiro e de sua mulher Madalena Fernandes.

Antônio Rodrigues passou para a vila de São Paulo, onde serviu o ofício de tabelião do judicial e notas, consoante a provisão, ao que recebeu em 29 de maio de 1599, de Roque Barreto, capitão e ouvidor desta capitania de São Vicente, pelo senhor Lopo de Sousa capitão e governador dela por Sua Majestade. Antônio Rodrigues também exercia a função de barbeiro, muito comum a cristãos-novos, na vila de São Paulo. É assim identificado quando sua mulher, Ana Ribeiro, depôs no processo de beatificação do Padre José de Anchieta, a 9 de abril de 1622, na vila de São Paulo. O ofício de barbeiro, tinha por função, nos séculos XVI e XVII, praticar a pequena cirurgia, que consistia em escarificar, aplicar ventosas, sanguessugas e clisteres, lancetar abscessos, fazer curativos, excisar prepúcios, tratar de mordeduras de cobras, arrancar dentes, etc.

Para exercitar legalmente seu ofício, fazia-se exame de sua capacitação por oficiais ou mestres. A família Alvarenga foi considerada CRISTÃ -NOVA, conforme constou do processo “de genere et moribus” de um seu descendente, José Gonçalves Santos, no ano de 1752 (Processo no.3-72-1935, de genere et moribus de José Gonçalves Santos, ano de 1752, no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo). Este era neto materno de Isidora de Godoy, a qual era filha de Antônio Correa de Alvarenga e Isabel Velho.

Segundo uma testemunha ouvida, o Reverendo Padre Frei João da Natividade, afirmou que Antônio Corrêa de Alvarenga era primo irmão do Antônio Corrêa Garcia, este pai do Padre Pedro Corrêa de Alcântara, que sofria pública fama de mulato pelos Corrêas e de cristão-novo pelos Alvarengas. A título de curiosidade, o poeta e inconfidente mineiro Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), pertencia a família Alvarenga, por ser neto de Francisco de Barros Freire e de Isabel Rodrigues de Alvarenga (Genealogia Paulistana, Volume VI, p.109). Ele entrou com um processo de genere et moribus em 1757 de compatriotado no Bispado de São Paulo.

Antonio Rodrigues de Alvarenga, que de Lamego passou a morar em S. Vicente no princípio de sua fundação por Martin Afonso de Sousa, mais tarde em S. Paulo, onde exerceu, como proprietário, o ofício de tabelião judicial e notas.

Através deste ascendente minha mãe, meu irmão e eu fomos certificados pela Comunidade Israelita de Lisboa, que comprovou nossa ligação familiar à comunidade judaica sefardita de origem portuguesa. Com isso, pudemos nos candidatar para a concessão da Nacionalidade Portuguesa por naturalização.

Outro fato muito curioso e que sempre nos rondou foi o sobrenome materno da minha bisavó materna: MOLITOR, que eu sabia que é alemão, apesar de muito diferente dos sobrenomes alemães que ouvimos com frequência. Um dia resolvi pesquisar no Google esse sobrenome, na intenção de localizar algum parente próximo, mas minha surpresa enorme foi saber que dois grandes memorialistas da região escreviam sobre um tio dessa minha trisavó, o Jacob Molitor. Entrei em contato com eles e por ali fui montando a árvore genealógica até chegar na Prússia (atual Alemanha).

Localizei também a história do Antonius Molitor, o meu pentavô, que veio da Prússia de veleiro, pra trabalhar no Exército Imperial, em 1828, no livro “Os mercenários do imperador: a primeira corrente imigratória alemã no Brasil”, de Juvencio Saldanha Lemos.

Seguindo esse mesmo raciocínio, localizei em livros sobre a cidade de Botucatu e Santana do Itararé, os antepassados da minha avó materna, os Costa Luz e os Senne, pioneiros da região. Aliás eles ainda têm duas descendentes vivas: minha avó, de 86 anos e a irmã dela, de 93.

Agora do zero mesmo eu comecei a genealogia dos Mendes. A única coisa que tínhamos ouvido falar era que eles vinham de Guarapuava/PR, mas só! Eu fui, por dias e noites, lentamente, pesquisando durante meses e meses em livros de batismos e casamentos, registros civis e censos até chegar em Guarapuava/PR, percorrendo o caminho inverso dos meus antepassados, sem saber como eles chegaram até lá. E foi em outro livro de genealogia que localizei a família vinda do Paranaguá. Então, achei muito interessante, pois diferentemente de muitas famílias de imigrantes ou vindas das Minas Gerais pra São Batista do Rio Verde, a minha veio do Paranaguá, parou em Faxina e seguiu para São Batista do Rio Verde.

Todas as Genealogias, sem exceção estão inacabadas e nunca são construídas sozinhas, mas atualmente estou trabalhando no meu ramo da família Lara e Alexandre Monteiro. Espero, numa próxima entrevista, ter novidades sobre estes ramos da família também!

ItapoNews: Como foi pesquisar e elaborar a árvore genealógica do saudoso Professor e historiador João Batista de Magalhães Castilho, para a exposição sobre a vida do professor no Museu da Paulistânia que leva o nome dele?
Não tem como dizer que não é a minha árvore genealógica também, pois no final das contas, acabamos descobrindo parentesco longínquo, para provar que no Sudoeste Paulista, de um jeito ou do outro, estamos todos ligados.

Foram 15 meses de trabalho, de muito respeito e foi muito honroso reverenciar sua família, saber como era cada um deles e observar seus hábitos (porque conseguimos saber através da árvore genealógica tudo isso, sabia? Até os hábitos psicogenealógicos), suas profissões e quem foi cada um deles. Busquei por datas, registros de batismo, registros civis, registro de matrimônio e de óbito, fotos e histórias, sites de genealogia, cartórios, livros paroquiais, livros publicados e arquivo nacional. Pude esquematizar pelo menos 10 gerações, 304 ramos familiares e 659 ascendentes em 363 lugares, distribuídos do mundo.

Essa semente do Grupo de Estudos e Pesquisas em História, Cultura e Genealogia do Sudoeste Paulista estava há muito tempo germinando em cada um de nós, pois prezamos principalmente pela preservação do patrimônio e da história. Sempre digo que “quem não sabe de onde veio, não sabe pra onde vai.”

Antonio Levi Mendes

Serviço

Exposição: “MEMÓRIAS – Vida e Obra do Professor e Historiador João Batista de Magalhães Castilho”.
Data: de 09 de julho de 2022 a 30 de março de 2023.

Local: Museu da Paulistânia – Complexo Histórico e Cultural do Casarão Professor João Castilho – rua Dr. Felipe Vita, nº 1243, Centro, Itaporanga – SP.

Visitação: de terça-feira a domingo, das 15h às 18h30min (entrada gratuita e classificação etária livre).

Agendamento de grupos: telefone (15) 99699-6237

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