Atores portugueses encenam, ao lado de Miriam Freeland (centro) a peça O Diário de Pilar na Grécia.
Fazendo isso enquanto artistas, temos também uma atitude responsável sobre esse acolhimento geral da língua portuguesa.
Atores portugueses encenam, ao lado de Miriam Freeland (centro) a peça O Diário de Pilar na Grécia.
Cultura e educação – O Dia Internacional da Língua Materna é celebrado nesta segunda-feira, 21 de fevereiro, com a Unesco lembrando a importância da diversidade linguística e cultural para as sociedades. Segundo a agência da ONU, preservar as diferenças nas culturas e nas línguas é uma maneira de promover a tolerância e o respeito entre as pessoas.
Tendo em mente a união de duas culturas, a atriz Miriam Freeland lançou uma proposta original ao levar para Portugal a peça brasileira O Diário de Pilar na Grécia: unir as duas variantes do mesmo idioma nos palcos do teatro.
O espetáculo, que encanta crianças e adultos, está em cartaz no Teatro Independente de Oeiras até 27 de março. Miriam Freeland interpreta Pilar, a menina que utiliza uma rede mágica para procurar o seu avô, que havia partido em viagem para a Grécia.
Nesta entrevista à ONU News, em Lisboa, Miriam fala sobre a escolha de atores portugueses para contracenarem com brasileiros e destaca a importância de se normalizar os encontros das duas variantes da língua portuguesa.
ONU News: Ficou super bonito porque tem o fator surpresa: o início da peça é apenas com atores brasileiros, até porque O Diário de Pilar na Grécia foi escrito pela Flávia Lins e Silva, que é brasileira, então enquanto espectadores achamos que seriam apenas atores brasileiros. De repente entram Helena e o amigo da Pilar (Breno) falando português (de Portugal) e ficou genial. Ficou muito bonito no palco os dois sotaques, as duas variantes da nossa língua… como tem sido a recepção do público?
Miriam Freeland: É engraçado isso, tem muito público brasileiro e muito público português e eu acho que é isso que você sentiu. Tem aquele primeiro: “Oi, é isso aí?”, mas o código vai. Depois que o código se estabelece, ninguém nem pensa mais sobre isso. Isso é que é o mais legal, é perceber que o público embarca junto com a gente nessa viagem paralela, acredita naquilo e vai. E foi estratégico escolher tanto a Helena quanto o Breno que são personagens que estão ao lado da Pilar o tempo inteiro, foi estratégico ter este trio misturado, para a gente quebrar esse paradigma e conquistar de fato. Poder dizer: gente, estamos aqui e o mundo é maior do que determinados meu e teu, você e tu, essa brincadeira das diferenças. Mas sim vamos somar, vamos estar juntos nesse caldeirão. A gente fez (até agora) quatro sessões do espetáculo e ninguém chegou para a gente e fez nenhuma observação negativa. A história foi maior, o que a gente conta, o entretenimento, a emoção, o que está no texto está além, é super tranquilo.
ONU News: A língua materna é a mesma, a língua portuguesa e a peça traz muito isso, o português de Portugal e o português do Brasil, então qualquer um que estiver assistindo, independente de onde nasceu, irá se sentir acolhido…
Miriam Freeland: Exato, era exatamente essa a intenção. Não foi sem querer, foi proposital. A gente sabia que ia ter um público naturalmente brasileiro, dos imigrantes que moram aqui, ou por conhecer a Pilar ou por nos conhecer como atores, tinham outros apelos, mas a gente queria muito acolher e trazer e fazer conhecer o projeto e o trabalho para o público português. Então essa era a forma também da gente ter a empatia de dizer: olha, é para vocês também, venham se deliciar porque estamos aqui fazendo um projeto bacana, com responsabilidade, com o cuidado que o projeto para a infância precisa ter…era realmente para acariciar.
Não só nós enquanto artistas podermos trocar, o que é super interessante, mas também abarcar, pois tem os angolanos, os cabo-verdianos, e daqui a pouco é isso que vamos fazer também, pois temos esse objetivo, de fazer esta mistura, esse intercâmbio. Fazendo isso enquanto artistas, temos também uma atitude responsável sobre esse acolhimento geral da língua portuguesa. Os livros rodam tanto, porque não podemos também rodar, ter essa mistura. Se está lá na livraria livros do português do Brasil junto com livros do português de Portugal, por quê nós também não podemos estar misturados e isso ser bom para todo mundo?
ONU News: A peça está em cartaz no Teatro Independente de Oeiras, que fica muito próximo de Lisboa, até quando?
Miriam Freeland: A gente fica até o dia 27 de março, todo sábado e domingo às 15h30. Estamos muito felizes, o público tem dado essa resposta, a gente quer, cada vez mais, corações portugueses na nossa plateia, os brasileiros sempre, os cabo-verdianos, angolanos, todo mundo que está aqui junto e misturado, é um prazer enorme para a gente. É um encontro para as famílias, é um espetáculo para os adultos também, intencionalmente, para conquistar esses corações para um produto feito
para a infância.