Sempre que falamos em pagamento de salário normalmente associamos isso ao departamento financeiro, recursos humanos e uma ou duas datas do mês, mas o que às vezes não associamos é que cada um de nós “paga” o próprio salário a cada dia ou cada hora trabalhada.
Vamos analisar a partir do salário mínimo e representar como pagamos o nosso salário a cada dia.
Primeiro é importante entendermos que nosso custo para a empresa não se resume apenas no salário, mas que um funcionário que ganha salário mínimo (R$1.212,00 desde Jan/22) sem qualquer outro benefício adicional (Vale transporte, Vale Alimentação, Plano de Saúde, Outros Benefícios…) custa para a empresa R$1.824,73 (incluídos provisão de 13º, provisão de 1/3 de férias, FGTS e INSS sobre salário/férias/13º, assim como os 30 dias de férias – se uma empresa precisa de 12 funcionários e cada mês um está de férias ele precisa contratar 13).
Com base neste custo e considerando que trabalhamos em média 22 dias por mês, significa dizer que nosso custo é de aproximadamente R$83,00 por dia, portanto a decisão de uma empresa em contratar e manter um funcionário só é justificada a partir do momento que este funcionário acrescenta para a empresa no mínimo R$83,00 por dia.
Para algumas funções é mais fácil analisar se pagamos o nosso salário, pois conforme a produtividade mensal ou até mesmo diária, e considerando o valor que agregamos à empresa podemos chegar a um resultado positivo ou negativo (neste caso não estaria pagando).
Para exemplificar vamos imaginar uma confecção que apenas presta serviços de costura, ou seja, não compra matéria-prima e o material fornecido já é cortado por outra empresa contratante. Considerando que os funcionários recebem em média um salário mínimo e que por dia cada funcionário é capaz de costurar um mínimo 8 peças, e que a empresa contratada cobre R$10 por peça costurada, significa dizer que um funcionário que produz o mínimo não paga seu próprio salário uma vez que produz R$80,00 e seu custo diário é de R$83,00. Observem que nesta análise excluímos todos os demais custos da empresa como energia, telefone, custos administrativos, que devem sempre ser considerados. Portanto quando analisamos se pagamos nosso salário com o trabalho que fazemos, devemos ir além de apenas nosso trabalho, mas se nossa produtividade também é capaz de sustentar os demais recursos a nossa volta.
Por outro lado há funções onde a mensuração é mais difícil de forma direta, mas possível quando analisar a empresa como um todo. Se utilizarmos o mesmo exemplo acima e imaginarmos que há um funcionário administrativo para cada 20 de produção, uma vez contabilizado o custo deste funcionário como custos administrativos, significa dizer que se os trabalhos por este desempenhado possibilitam vendas e produção para no mínimo 20 funcionários, pode se afirmar que este também paga o seu salário.
Com base nesta análise, e ao notarmos que alguns “pagam” seus próprios salários diretamente na operação e outros indiretamente, facilita entendermos que em um momento de crise as primeiras funções cortadas na empresa são as funções que não agregam valor de forma direta, mas sim indireta. Claramente que também pode haver demissões de funcionários que apesar de estarem diretamente na produção/operação acabam não pagando seu próprio salário, remanejando assim funcionários que não estavam diretamente na operação.
Ao ver esta análise como apresentada até o momento pode parecer que o autor é totalmente favorável ao capitalismo empresarial apenas do lucro pelo lucro, mas ao contrário, acredito que toda empresa tem sua função social e que a manutenção de alguns funcionários mesmo que não “paguem” seus salários é necessária em alguns momentos, e pode ser importante tanto para um bom ambiente de trabalho como para a imagem da empresa. Por outro lado nós como funcionários devemos sempre ir para o trabalho com a idéia de pagarmos nosso salário, ainda que alguns dias sejamos menos produtivos que outros, afinal somos seres humanos e não máquinas/robôs.
Afinal, você pagou seu salário hoje?
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Sidnei Almeida, natural de Itaporanga, formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná com extensão em Gestão Econômica Financeira pela Fundação Dom Cabral, além de vasta experiência em grandes empresas na área de financeira e crédito e bancos como Banco do Brasil, HSBC, Banco Renault/Santander e atualmente BNP Paribas, líder europeu.