Hoje temos uma oferta de crédito no Brasil em abundância, mas nem sempre foi assim. Nesta coluna trataremos do tema crédito em alguns artigos para tentar falar sobre quando o crédito pode ser bom ou ruim. Para começar precisamos olhar para a história, entendermos e também nos preparar para fazer bom uso desta opção que o mercado oferece.
O crédito no Brasil é recente e já passou por pelo menos um ciclo, mas está em constante mudança em busca de melhoria para os dois lados, tanto para o consumidor quanto para as empresas e instituições de crédito.
Para esclarecer, o mercado entende como um ciclo de crédito o período completo, desde a contratação até o pagamento, por isso digo que já passamos por pelo menos um ciclo, ou seja, alguém que tenha comprado um carro financiado nos prazos mais longos permitidos no mercado já pode ter terminado de pagar e contratado um novo crédito para comprar um novo carro.
O cartão de crédito que é hoje o crédito mais acessível e também mais perigoso, também não era disponível para o público em geral na antes dos anos 2000. Um dos motivos para a falta de crédito, era a elevada inflação e instabilidade econômica do Brasil.
Antes disso pouco ou quase nada existia de crédito, mas antes disso algumas ferramentas já foram construídas e são usadas até hoje, como é o caso do SERASA e SPC.
Talvez a primeira experiência de crédito para o brasileiro com menor possibilidade tenha sido o crédito do BNH e COHAB, mas por outro lado as construções eram restritas e quase sempre com o mesmo padrão tanto de tamanho quanto de qualidade, ao contrário do que se vê hoje para o crédito habitacional.
Paralelo ao crédito habitacional, antes da estabilidade econômica, também tivemos o surgimento de grandes empresas de consórcio no Brasil, que apesar de ter certa característica de crédito representa o pagamento antecipado de um bem para que poucos participantes do grupo de consórcio (sorteio e lances) pudessem ter o bem no início, mas todos entravam em um grupo de consórcio como uma forma de poupar para realizar um sonho no futuro. É interessante mencionar que a modalidade de compra por consórcio não era restrita a consórcio imobiliário ou de automóvel, mas também para bens de consumo de menor valor como aparelhos domésticos (existia o consórcio Sharp, por exemplo, para TVs).
Também antes, e principalmente em cidades menores como as da nossa região tínhamos o crédito nas lojas com fichas pessoais em que íamos todos os meses, ou quase todos os meses para pagar e quase sempre acabávamos comprando. Por isso é comum ouvirmos que o nome é nosso o mais importante, ou seja, pagando em dia temos o crédito em toda cidade (uma forma de cadastro positivo – veremos a seguir). Mas esta modalidade ajudou também o crescimento de um grande participante do mercado, as casas Bahia, que viu no crédito aos consumidores uma oportunidade de vender mais e ter resultado também financeiro (as prestações pagavam o bem mais os juros que a própria loja tinha para financiar seus clientes).
Logo após o plano real e a paridade de nossa moeda com o dólar também surgiram alguns créditos para o consumidor em dólar, que na primeira disparada da cotação se mostrou ineficiente para o consumidor.
Por último começaram a surgir créditos mais próximos do que temos hoje, e me recordo de uma loja de móveis e eletrodomésticos, cuja propaganda para o crédito era um beija-flor entrada (o beija-flor também já entrou para a história, já que não existe mais a nota de R$1). Foi nesta altura que apareceram as financeiras para motos, carros, e o crédito no Brasil explodiu, tendo inclusive passado por crise, onde algumas financeiras faliram por falha de pagamento dos clientes bem como contabilização errada de provisões.
O fato de quase todos os brasileiros passarem a ter uma conta bancária também favoreceu para a evolução do crédito, uma vez que os bancos passaram a ter o histórico de nosso fluxo de caixa (entrada, saída e sobras) e oferecimento de crédito habitacional por diversos bancos deixando de ser quase exclusividade da Caixa Econômica Federal.
Recentemente foi aprovado o chamado cadastro positivo, o que favorece a leitura de todo tipo de pagamentos que efetuamos (inclusive nossas contas de luz, água e telefone mensal), mas que precisa de autorização do consumidor e que as empresas informem a SERASA e SPC não só quando alguém deixa de pagar, mas também quando pagamos em dia.
A verdade é que nós consumidores precisamos de crédito mais barato, mas as empresas, bancos financeiras precisam garantir cada vez mais que o crédito é dado para quem paga, tanto que a modalidade uma das modalidades mais baratas de crédito é o consignado, onde a empresa que trabalhamos repassa direto para o banco ou instituição parte do nosso salário.
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Sidnei Almeida, natural de Itaporanga, formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná com extensão em Gestão Econômica Financeira pela Fundação Dom Cabral, além de vasta experiência em grandes empresas na área de financeira e crédito e bancos como Banco do Brasil, HSBC, Banco Renault/Santander e atualmente BNP Paribas, líder europeu.