Neste sábado(21), Itaporanga completa 165 anos de fundação. Até 1996 o município comemorava apenas a data de emancipação política, que se deu em 6 de março de 1873. Graças a trabalhos de pesquisas dos historiadores João Castilho e Levi Mendes, foi levantada com exatidão, através do diário do Barão de Antonina, a data e a hora da fundação de Itaporanga, ocorrida em 21 de agosto de 1845.
Até os anos 80, pouco ou quase nada se sabia historicamente sobre a data de fundação. Isto deixava o professor e historiador João Batista de Magalhães Castilho inconformado. Sabia-se apenas que o fundador foi Frei Pacífico de Montefalco, entre 1844 e 1845.
Após transferir-se de Itapeva – onde lecionava – para Itaporanga, Castilho passou a dedicar-se a exaustivos trabalhos de pesquisas para levantar com exatidão a data que a grande maioria das cidades brasileiras comemora, a fundação. No município, embora tenha pesquisado todos os arquivos, ele nada encontrou.
Há cerca de 15 anos, quando da participação de uma série de cursos de história da América, Castilho expôs aos colegas a dificuldade, recebendo destes a orientação para pesquisar nos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e Arquivo do Estado.
Para sua surpresa o que procurava iria encontrar – com riqueza de detalhes – numa revista editada pelo órgão em 1930. Essa publicação foi elaborada a partir de manuscritos feitos por Barão de Antonina, que era sócio e colaborador do instituto.
O próprio Barão escrevia os diários de viagens dos sertanistas J.F. Lopes e H.H. Elliot(americano), nas suas expedições denominadas “Entradas”. Por outro lado, para completar o Trabalho, Antonio Levi Mendes, ex-aluno de Castilho, advogado e historiador – com licenciatura pela USP -, concluiu nessa ocasião um trabalho sobre “Os Índios no Brasil”, e no capítulo “Os Guarani no Rio Verde”, nossa região, escreveu: “Os índios Guaianã habitavam há anos esta região, sempre em conflito com os moradores da Vila Faxina(Itapeva) e com os tropeiros que utilizavam a estrada do sul. A fama de caçadores de “bugres” dos guardas de Faxina corria a província.
Os Guarani (singular mesmo), aliados com os paulistas entraram em luta com os Guaianã que, sentido-se impotentes, afastaram-se da região, internando-se nas matas.
Com o passar do tempo, já sem o perigo dos Guaianã, os brancos começaram a avançar sobre a aldeia dos Guarani, derrubando a floresta e espremendo-os numa faixa estreita de terra. Diante de terra diminuta e falta de caça, os guarani tomaram a iniciativa de em setembro de 1843 procurar o proprietário da Fazenda Pirituba, o coronel João da Silva Machado, depois Barão de Antonina, para expor a sua situação e dizer da vantagem que tinham de adentrar o sertão em busca de lugares melhores para a sobrevivência da tribo, que contava com pouco mais de 200 índios.
O cacique guarani Manoel Avepuembi foi quem estabeleceu esta aliança com o Barão, a quem chamam de “Pay Guassu”. O barão se convenceu e em seguida escreveu ao governo provincial expondo o primeiro contato e solicitando providências.
No mesmo ano, os índios, com o apoio do Barão, abriram uma picada de 11 léguas(66 Km) sertão adentro e estabeleceram duas aldeias: uma na margem direita do Rio Itararé, distante 6 km uma da outra. Em agosto de 1845, chegou o missionário capuchinho Frei Pacífico de Montefalco, com 31 anos de idade.
O fundador – Frei Pacífico de Montefalco, cujo o nome civil era Luiz, nasceu na Vila Montefalco, Úmbria, Itália, em 1814. Seus pais chamavam-se José e Verônica Pimpinichio. Em 8 de novembro de 1830, com 16 anos, entra para a Ordem dos Frades Menores Capuchinos, no Convento de Amélia, onde faz o noviciado. Em 1833 inicia o estudo de Filosofia no Convento de Gubio, sendo em 22 de setembro de 1843 nomeado Guardião do Convento de Trevi, ficando neste até 27 de maio do ano seguinte, quando vem para as missões no Brasil, onde chegou em 13 de agosto de 1844. A 19 de setembro de 1844 parte do Rio de Janeiro para São Paulo, em companhia de dois missionários capuchinhos: Pe. Frei Gaudêncio de Gênova e Pe. Frei Ponciano de Montaldo, com o objetivo de missionar os índios do Oeste de Nordeste do Estado de São Paulo.
Nessa viagem surgiu o plano do aldeamento de São João Batista do Rio Verde(itaporanga) e Tijuco Preto(Piraju). Os missionários se dirigiram para Faxina (Itapeva), permanecendo nesta durante um ano para aprendizado da língua, modos e costumes, para melhor realizarem seus trabalhos.
Pe. Frei Pacífico de Montefalco faleceu em 30 de dezembro de 1862, depois de ficar 45 dias com intensa febre, aos 48 anos de idade. Consta que seu corpo foi enterrado na capela mor, em frente do altar da igreja de São João Batista, que ele mesmo, com o auxílio dos índios, havia construído. No entanto, há quem diga ter morrido em Itapetininga, e também quem afirme em Botucatu. Estes dados sobre Frei Pacífico foram escritos em 1963 por Frei Mateus Maria do Souto, missionário capuchinho. Sabe-se, por outro lado, que o historiador Antonio Levi Mendes possui um grande acervo contendo originais de correspondências de Frei Pacífico e do Barão de Antonina, que supõem possam esclarecer a dúvida.
Pesquisa leva à descoberta – Um dos manuscritos publicados em 1930 na revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo relata o “Resumo do itinerário de uma viagem exploradora pelos rios Verde, Itararé, Paranapanema e seus afluentes. Pelo Paraná, Ivaí e sertões adjacentes, empreendida por ordem do Exmo. Sr. Barão de Antonina”, registra com precisão de data e riqueza de detalhes a fundação do Aldeiamento de São João Batista do Rio Verde(Itaporanga).
Diz o registro: “A comitiva saiu da Fazenda Pirituba no dia 16 de agosto de 1845, com 19 pessoas, incluindo 8 índios domesticados. Passaram o dia 17 no Rio Verde; no dia 18 chegou na Aldeia do Capitão Manoel, ficando nesta até a manhã de 19. Dia 20. Hoje à tarde chegou ao alojamento o Exmo. Barão, acompanhado pelo Sr. Luiz Vergueiro (que vai à testa da expedição) e por três missionários capuchinhos. Os índios prepararam para a sua recepção uma casa ornada com ramos, flores silvestres e jarivás.
O Exmo. Barão, acolhendo-os com afago, repartiu entre eles aguardente, fumo, rapadura, sal, roupas, missangas e etc. Dia 21, às 9 horas da manhã o Sr. Lopes com sete companheiros embarcaram no Rio Verde em três canoas. Sua Excia.(Barão) acompanhado com o Sr. Vergueiro, os missionários e mais, foram passear até ao Porto de Paygyassu, no Rio Itararé, distante pouco mais de uma légua da Aldeia; voltando de lá teve lugar a cerimônia de levantamento da cruz que havia sido aprontada para essa ocasião. O rev. Pe. Frei Pacífico pregou um discurso análogo; de noite os índios congregados cantaram uma espécie de reza que parece tinham recebido em tradição de seus avós que antigamente tinham sido educados pelos jesuítas”.
Estes relatos mudam a versão da história que foi ensinada até hoje, que dizia que o Frei Pacífico tinha chegado com um casal de africanos. Nesta data então, 21 de agosto de 1845, surge a Aldeia de São João Batista do Rio Verde, posteriormente Freguezia de São João Batista, e em 6 de março de 1871 passa à categoria de Vila, com o nome de Vila de São João Batista do Rio Verde, passando a município em 22 de janeiro de 1873 e finalmente em 21 de junho 1899 recebe a denominação de Itaporanga, nome indígena que significa: Ita”Pedra” – Poranga “Bonita”.
Dos 800 alqueires doados pelo Barão de Antonina para o aldeamento, o Pe. Frei Pacífico destinou 200 alqueires para a futura cidade, cujas as ruas ele mesmo demarcou.
Dois anos depois da fundação, em 1847, já estava pronta a primeira igreja de São João Batista, construída pelo Frei Pacífico, com ajuda dos índios, no local onde hoje funciona a Sabesp, em frente à Praça João Abdallah. Frei Pacífico teria sido sepultado no altar desta igreja, em 30 de dezembro de 1862.
Comemoração dos 150 anos – Para comemorar o sesquicentenário de fundação, em 21 de agosto de 1996 a Prefeitura e a Câmara Municipal e mais os professores João Batista de Magalhães Castilho e Antonio Levi Mendes elaboraram uma programação especial, com atrações culturais, cujo o ponto alto, foi às 16 horas daquele dia 20, que teve uma representação teatral ao ar livre, da chegada, em canoas, da comitiva do Barão de Antonina, frei Pacífico de Monte Falco e todos os personagens descritos no diário, à margem esquerda do Rio Verde (ponte), com a participação de estudantes, professores e do grupo de teatro dos índios Guarani, da Aldeia Morro da Saudade (Parelheiros/SP). Em seguida, na Praça João Abdallah, foi feita a reconstituição do ato de fundação de Itaporanga.