Quem nunca pensou em pedir as contas e ser dono do próprio negocio? A difícil missão de empreender no Brasil

Com certeza todos nós já pensamos em ter a própria empresa, mas talvez não tenhamos ponderado alguns pontos importantes que vamos tratar a seguir.

Algumas pessoas acabam por se tornar empresários pelo histórico familiar, quando pais, avós ou outros familiares próximos já são empresários bem sucedidos e acabam influenciando e dando os conselhos para também ter sucesso. Mas outras pessoas alimentam o sonho e acabam por se aventurar em um negócio próprio sem muitas ponderações, e pela falta de exemplos e conselhos não atingem sucesso nesta aventura.

Devemos evitar que um negócio próprio seja uma aventura, e o primeiro ponto a ser considerado para deixar de ser empregado e ter o próprio negocio é saber se podemos seguir trabalhando e contratar alguém de forma temporária pagando, no mínimo, o salário que ganhamos em nosso emprego sem ficar no vermelho (isso pode não ser possível nos primeiros meses, mas no máximo em 6 meses deveria ser). Se a resposta for sim, já podemos partir para análise de outros fatores, mas caso a resposta seja negativa devemos repensar este negócio e adiá-lo, nos preparando melhor para isso, ou até mesmo desistir. Embora desistir possa ser associado ao fracasso é melhor “fracassar” sem perder dinheiro do seguir em frente e perder (também fracassando). Existem pessoas com muito sucesso como empregado, mas que por algum fator não poderiam ter seu próprio negócio com sucesso.

A resposta negativa para este ponto pode ter como motivo o fato de que neste novo negócio algumas coisas que pretendemos produzir e vender, apenas nós sabemos fazer e com outra pessoa não seria possível. Isso significa que temos algum conhecimento adicional, uma qualificação, e que se vou usar desta qualificação o salário a ser considerado deve ser maior do que tenho em meu emprego (caso não utilize desta qualificação em meu emprego).

Esta primeira análise deve ser acompanhada com a capacidade do negócio pagar todos os custos fixos como aluguel, água, luz, telefone, tarifas bancárias e um escritório de contabilidade para que nenhum imposto (e temos muitos para cada tipo de negócio) deixe de ser pago, bem como nenhuma obrigação contábil deixe de ser atendida (obrigações trabalhistas por exemplo).

Após ultrapassarmos estes pontos devemos partir para análise do valor necessário para o investimento (máquinas, equipamentos, matéria prima, capital de giro) e também contabilizar o custo deste dinheiro. Algumas pessoas pensam que pelo fato de não usar nenhum empréstimo não há custo, mas no mínimo devemos considerar os juros de poupança, pois se investíssemos este dinheiro na poupança, sem qualquer esforço e risco teríamos este retorno garantido.

Além desta análise do custo do valor investido é preciso buscar o retorno do investimento em no máximo 5 anos, ou seja que após este período tenhamos o mesmo valor corrigido disponível para investirmos novamente. Esta necessidade, apesar de ser negligenciada, é importante para reposição de máquinas e equipamentos, o que normalmente ocorre a cada 5 anos.

Toda esta análise, sempre que possível, deve fazer parte de um projeto econômico/financeiro do empreendimento, pois uma vez tendo um projeto torna também possível um financiamento ou até negociarmos com um banco um pacote de serviços necessários para um negócio (hoje é praticamente impossível pensar em um negócio sem máquina de cartão).

Por último vale lembrar que como empregado trabalhamos 8 horas por dia, temos direito a férias, 13º, entre outros benefícios, mas como empresário somos empresários 24 horas por dia todos os dias do ano, ou seja, férias passa a ser uma viagem para descanso, mas nunca vamos nos desligar totalmente de como vai nossa empresa e se quem deixamos no lugar está cuidando como esperávamos (férias pode ser mais cansativa/preocupante que no dia-a-dia).

Caso considere difícil fazer esta análise sozinho (realmente não é fácil empreender), busque o SEBRAE ou profissionais que possam ajudar (técnicos em administração e técnicos contábeis formados pela ETEC de nossa região podem ajudar), mas o mais importante é que sejamos realistas nas previsões e pessimistas em expectativas de negócios, pois para quem pouco ou nada espera a possibilidade de ser surpreendido positivamente é maior.

Mesmo com toda análise e suporte é possível que um negocio não dê certo, mas o mais importante é que todas as contas sejam pagas em dia (por isso o capital de giro considerado no investimento), assim em caso de necessidade de encerrar o negócio não levará o ônus da empresa para sua pessoa física, ou seja o CPF continua sem restrições em SPC e SERASA.

A abordagem que apresentamos aqui não tem como objetivo desestimular o empreendimento, mas sim orientar para que o mesmo seja bem sucedido, afinal nossa região e o Brasil precisam de empreendedores.

Envie sugestões de temas, dúvidas, críticas através do e-mail [email protected] ou através do Messenger do autor (Sidnei Almeida).

Sidnei Almeida, natural de Itaporanga, formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná com extensão em Gestão Econômica Financeira pela Fundação Dom Cabral, além de vasta experiência em grandes empresas na área de financeira e crédito e bancos como Banco do Brasil, HSBC, Banco Renault/Santander e atualmente BNP Paribas, líder europeu.

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1 Comentário
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João Ribeiro
João Ribeiro
24 de agosto de 2021 15:22

-Boa tarde.
Parabéns pela abordagem do tema, clareza e sinceridade no conteúdo!